HELENA. A irmã de Santa Theresinha que morreu ainda criança (1)

Valter de Oliveira

Muita gente na Igreja conhece Santa Theresinha. Muitos leram suas obras como “História de uma Alma” – sua autobiografia – e “Conselhos e Lembranças”. Sabem também que nasceu e cresceu em uma família profundamente católica e piedosa. Por outro lado creio que já não sejam tantos os que sabem que seus pais, Luís Martin e Zélia Martin foram declarados santos pelo Papa Francisco em um domingo, 18 de outubro de 2015, em Roma.

E quem conhece a vida desta família modelar?

Eu a conheci há mais de 50 anos, quando comprei “História de uma Família, uma escola de Santidade”. Ainda era bem jovem, já tinha lido as obras da santa, quando me deparei com este livro. Para ser exato foi em 1970. Fez-me muito bem, mas, com o tempo, esqueci-me dele. Na semana passada, ao recomeçar a ordenar meus livros eu o encontrei. Nele, em cada página, encontramos registros da família e reflexões do biógrafo que nos tocam profundamente.

Zélia e Luís Martin

Com saudades revi algumas páginas. A partir delas daria para escrever uma série de artigos.  Poderia falar de como Luís e Zélia se amavam e das alegrias de um doce convívio de uma família francesa da classe média em Alençon, na França, ou do amor que cada criança tinha pela outra. Contudo, vou seguir outro caminho. Vou abordar um momento de dor na família. Em concreto vou tratar da morte da pequena Helena. O autor do livro nos introduz na história:

Helena

“Entre as pequeninas que alegravam o lar, a Helena parecia marcada com um sinal misterioso. Era encantadora”, “fresca como uma rosa da manhã”, tão meiga quando se poderia desejar e duma inteligência precoce que lhe dava às palavras um encanto incomparável (…) Sem que a família se desse conta algo minava sua saúde. E a 22 de fevereiro de 1870, após uma crise que só durou um dia e sem que o médico tivesse adivinhado a gravidade do mal, foi tocada também pela asa negra da morte. A mãe, que se censurava asperamente por este desenlace inesperado, traçou por sua própria mão este quadro patético dos derradeiros momentos:

            “Olhava para ela, tristemente. Nos olhos embaciados já não havia vida e eu pus-me a chorar. Ela, então, rodeou-me o pescoço com os dois bracinhos e consolou-me o melhor que pôde. Durante esses dias dizia constantemente: Minha pobre mãezinha que esteve a chorar!” Passei a noite ao pé dela: noite muito má. De manhã perguntamos-lhe se queria tomar o caldo. Disse que sim, mas não o podia engolir. Contudo fez um grande esforço, dizendo-me: “Se eu o tomar gostas-me mais?”

            Tomou-o todo, mas em seguida sofreu horrivelmente não sabia o que havia de ser dela. Olhava para uma garrafa de remédio que o médico tinha receitado e queria toma-lo, dizendo que quando tivesse bebido tudo, ficaria curada. Depois, pelas dez menos um quarto, disse-me: “Sim, daqui a pouco vou estar curada… sim, agora mesmo…” Neste instante, enquanto eu a amparava, a cabecinha tombou-lhe para o meu ombro, os olhos fecharam-se-lhe e daí a cinco minutos já não existia…

            Senti uma impressão que nunca mais poderei esquecer; não contava com este desenlace repentino e o meu marido também não. Quando chegou à casa e viu a filhinha morta, desatou a soluçar, exclamando: “Minha querida Helena! Minha querida Helena!” Depois oferecemo-la ambos a Nosso Senhor… Antes do enterro passei a noite junto da minha querida filhinha que estava ainda mais bela depois de morta do que em vida. Fui eu que a amortalhei e pus no caixão; julguei que morria, mas não quis que outras mãos lhe mexessem” (2).

Foi uma enorme desolação em toda a família. No colégio as mais velhas choravam a preferida de todas. O pai sentia-se atingido nas fibras mais íntimas do coração. Nunca mais a imagem desta filha se lhe apagará do espirito. Muitos anos mais tarde o ouvirão trautear as estâncias melancólicas da maviosa e romântica canção de Chateaubriand:

            “Quem me dera de novo a minha Helena,

            A montanha, o carvalho secular!

            Cada dia que passa, dor e pena

                    Me traz o recordar…

Notas:

  1. Helena nasceu em 13/10/1864 e faleceu em 22/02/1870.
  2. Carta da senhora Martin ao irmão e à cunhada, de 24 de fevereiro de 1870op. cit. p 88-89.

Fonte: PIAT. P. Stéphane-Joseph. O.F.M. História de uma família. Uma Escola de Santidade. O lar onde floresceu Santa Teresa do Menino Jesus. Porto, Livraria Apostolado da Imprensa, 1953.

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