O DIA EM QUE CONHECI GABRIEL

helena

Helena Cristina de Oliveira Almeida

Quando fiquei sabendo que na festa que tem aqui perto de casa, teria carrinho de bate-bate, falei na hora para o Bruno que tínhamos que trazer o Rafinha. Para quem não sabe, é meu irmão caçula, tem 10 anos e nunca tinha ido nesse brinquedo. E vamos combinar que o carrinho de bate-bate é, de longe, um dos mais legais de qualquer parque.

anna e rafa do bate bateOnde levamos o Rafinha, levamos a Anninha: minha irmã de 13 anos, que já não é mais criança, mas que topa qualquer parada. A entrada em cada brinquedo era R$5,00, mas levamos exatamente R$20,00 para aproveitar a promoção: 5 ingressos por R$20,00. Minha ideia era: 2 ingressos para eles irem no bate-bate, 2 para irem em outro brinquedo que quisessem e o último eu ia sugerir o tiro ao alvo, cada um dava um tiro e pronto. Em casa sempre aprendemos a compartilhar tudo.

anna e rafa do tobogãOs dois que na fila do brinquedo apresentaram um início de pânico (não tinham ideia de como dirigir o carrinho), logo estavam rindo à toa batendo o carro em todo mundo. Após o bate-bate, os dois falaram que queriam ir no tobogã. Enquanto eles brincavam, o Bruno e eu tirávamos várias fotos deles e a gente quase chorava de rir pelo jeito que escorregavam.

De repente um garoto de uns 11 anos parou ao meu lado e perguntou quanto era o brinquedo. “É R$5,00”. Ele abaixou a cabeça meio triste, olhou para o tobogã, então abriu a bolsa cheia de trufas e perguntou: “quer comprar uma?”. Infelizmente, eu não tinha mais dinheiro… Mas, tinha um ingresso. Pedi para o Bruno me entregar, dei na mão do menino e falei “vá brincar!”. Ele virou e falou “não posso soltar a bolsa, não tenho onde deixar”. Disse para ele não se preocupar que eu olhava enquanto ele brincava.

Ele tirou os sapatos e foi correndo para o brinquedo. A moça, que cuidava do tobogã, antes de deixa-lo entrar perguntou com quem ele estava. Ele me olhou e falei que ele estava comigo. Não vi ela perguntar o mesmo para as outras crianças… Enfim. Quando ele chegou lá em cima, ao invés de escorregar feito um louco, como as outras crianças, olhava de um lado para o outro sorrindo sem parar. Parecia não acreditar onde estava. Eu estava de boa até ver aquela cena. De repente comecei a chorar, mas não de felicidade por ele estar feliz. A única coisa que me passava pela cabeça é que não era justo. Que em um sábado à tarde, ele deveria estar na rua brincando, não vendendo trufas. Que aquele momento deveria ser a regra, não a exceção. O garoto não parecia infeliz por estar vendendo trufas. Na verdade, ele parecia entender o motivo de estar fazendo aquilo e, mesmo com a pouca idade, com certeza entende a situação da família dele. E naquele momento mesmo me deu uma raiva tremenda desses políticos (DE TODOS OS PARTIDOS), que são incapazes de olhar para as nossas crianças. Gente que só pensa em roubar e acobertar o roubo do outro.

Meu coração e o do Bruno praticamente conversam, então ele entendeu o motivo do meu choro e não falou nada, só enxugou minhas lágrimas como sempre fez. A Anna veio perguntar por que eu estava chorando e ficou sem entender nada. Depois que fiquei mais tranquila, o Rafa, que não tinha visto nada, perguntou o que faríamos com o último ingresso. Apontei para o menino brincando e disse que tinha dado o ingresso para ele. O Rafa, que tem um coração lindo e é super esperto, sacou tudo na hora e falou “legal!”. A felicidade do garoto era tanta, que tentei tirar uma foto dele, mas percebi que ele ficou tímido quando me viu apontando o celular para ele, então achei melhor não tirar mais foto nenhuma.

Enquanto ele brincava, chamei meus irmãos e o Bruno para tirar uma selfie. Tirei e depois guardei o celular. A Anna pediu para olhar as fotos deles escorregando e, quando ela foi olhar a foto de nós 4, deu risada ao ver que o menino apareceu de fundo todo sorridente. O Rafinha riu alto, achou um barato! Dei zoom na foto, comecei a rir e falei “você veio tirar foto com a gente e nem falou nada!”. Ele deu risada e pediu para ver como tinha saído. Agradeceu pelo brinquedo, por olharmos a bolsa, disse que se chamava Gabriel e então nos despedimos.

anna rafa helena bruno e gabrielMeu “feliz dia das crianças” é definitivamente para todas as crianças. Que um dia todas tenham a oportunidade de viver verdadeiramente como uma. Que tirar boas notas na escola e entrar em casa no horário que a mãe mandou sejam as únicas preocupações delas.

“A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes.”

Helena Cristina de Oliveira Almeida é jornalista 

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