POR QUE ELES NOS ODEIAM?

Por Hillary White – The Remnant | Tradução: Teresa Maria Freixinho – Fratres in Unum.com –

Vou dar um tiro no escuro e dizer que muitos pró-vidas, mesmo os que se converteram a essa posição, vieram de um ambiente doméstico que incluía mais de uma pessoa. A maioria das pessoas que conheci veio dessa coisa chamada “família”, que envolve várias outras pessoas, homens e mulheres, jovens e idosos, a quem permanecemos ontologicamente ligados pelo resto da vida. Aprendi também, embora isso tenha levado mais tempo, que a maioria das pessoas considera essas “famílias” como algo bom e útil, de benefício positivo em suas vidas.

Porque o Amor, a Vida e a Inocência Triunfam sobre a “Escolha”.

Essas ideias precisaram de algum esforço para se tornar habituais.

familiaprojetodedeusEssa suposição de segurança familiar, comum a muitas pessoas que atuam no mundo pró-vida, talvez seja uma desvantagem. Ela tende a fazer os pró-vidas parecerem presunçosos, satisfeitos consigo mesmos e incapazes de entender as conotações de sua mensagem para as pessoas do outro lado. E, muito possivelmente, essa suposição os impede de compreender o ódio e a raiva que, em toda inocência, eles podem causar ao insinuar que o aborto deve ser proibido. Lembro quando era mais jovem e via pró-vidas segurando cartazes de bebês, defendendo a maternidade, e achava que eles eram as piores pessoas do mundo. Que tipo de pessoas horríveis tentaria forçar uma mulher a destruir a si mesma por causa de um amontoado de células?

Levei muitos anos após a minha conversão para perceber que não é regra, mesmo no mundo ocidental da revolução pós-divórcio e pós-sexual, não ter parentes na vida, ter crescido sem contato com outras crianças da mesma idade e nunca ter tido contato com bebês ou gestantes. Levei muito tempo para descobrir que o pequeno mundo hippie-estiloso da Costa Oeste [americana], governado por costumes feministas e socialistas, não constituía a lei universal da existência.

Mesmo há poucos anos, um amigo que me entregasse seu filho, esperando uma resposta positiva, feminina, fofinha teria ficado decepcionado. Eu não tinha ideia alguma do que fazer com um bebê até muito recentemente e olhava para eles com uma vaga suspeita. (Embora eu seja muito boa com animais peludos e fofinhos, então, não totalmente privada de instinto feminino.)

Onde e quando cresci, nos anos 60 e início dos 70, na Ilha de Vancouver – o marco zero da Revolução Sexual –, a noção de famílias “alternativas” já estava bem arraigada, e em quase todo lugar era ponto pacífico que você vivia por conta própria e não podia depender de ninguém para obter ajuda ou apoio em caso de necessidade. Na melhor das hipóteses, bebês eram um estorvo, além de serem malcheirosos, barulhentos e destruidores. Na pior das hipóteses, eles eram um tipo de catástrofe social e econômica. Diziam-nos durante todo o caminho até a escola que a gravidez era fisicamente perigosa e arruinaria as nossas chances de qualquer felicidade futura, destruiria os nossos “relacionamentos” com os garotos e nos condenaria a vidas de miséria, pobreza e arrependimento pelas oportunidades perdidas.

Todas essas lembranças voltaram à minha mente nesta manhã quando li um artigo sobre o desdém e o desprezo com que, dentre todos os lugares, pais e bebês são tratados pela panelinha “estilosa” em Tel Aviv. Uma mulher escreveu sobre sua experiência com os seus amigos Cool Kids, quando, no início de seus 30 anos, ela anunciou que talvez desejasse ser mãe um dia: “Essa notícia foi recebida com doses iguais de gozação, desprezo e pena.”

Dana Kessler escreve no Tablet:

Alguns dos meus amigos me trataram como se eu tivesse me declarado uma fascista de direita ou apenas me olharam como se tivessem pena de mim por abandonar o reino do pensamento racional e voluntariamente atravessado para o outro lado – o lado do papo sobre bebê de quem sofreu morte cerebral. Ter um bebê, segundo eles, equivale a jogar a sua vida fora.

Sim. Praticamente.

hippiesQuando eu estava crescendo, a cultura hippie tinha dois pontos de vista sobre bebês: Eles eram uma forma de autoexpressão biológica ou um desastre social temido. Ninguém realmente gostava muito deles, mas, de qualquer jeito, os mais generosos os tinham, tanto quanto eu poderia dizer mais por descuido. Para início de conversa, essas eram pessoas cujos lares nunca eram lá muito limpos ou arrumados, assim, talvez eles imaginassem que um bebê bagunçando as coisas não faria muita diferença. Esses pais hippies, a maioria mulheres solteiras, permitiam mais ou menos que seus filhos corressem livremente e ficassem sujos. Esse comportamento era considerado como uma permissão para que seus filhos fossem “eles mesmos,” e as crianças que “se expressavam” espontaneamente sobre qualquer assunto eram consideradas como um triunfo da paternidade iluminada.

Minha mãe era uma dessas, e, de fato, eu passei grande parte de minha infância descalça. Eu tinha o hábito de pensar que o parque local, a praia e o terreno baldio do outro lado da rua fossem extensões de nossa própria sala de estar e, muitas vezes, deixava meus sapatos por lá, voltando para casa descalça. Apesar disso, eu era comparativamente bem asseada e bem-comportada, visto que minha própria avó inglesa – nascida em 1903 – não aturaria nada dessa baboseira hippie vinda de mim.

Entretanto, as outras poucas crianças em nosso círculo foram criadas de acordo com a interpretação mais rígida da ideologia e não eram restringidas por qualquer tipo de disciplina ou correção, instrução moral ou exemplo, e eram monstros. Não é de se admirar que eu preferisse passar o tempo sozinha explorando a praia ou com meu nariz enfiado em um livro. E, igualmente, não surpreende que muitos de nós crescemos para não ter os nossos próprios filhos.

Minha mãe, que, provavelmente, tinha uma inteligência de gênio, nunca perdeu uma oportunidade para lembrar todo mundo que a ouvisse, inclusive eu, que o motivo dela não ter prosseguido com os estudos para além do bacharelado (habilitação dupla em Matemática e Biologia Marinha) foi que ela precisava me criar e não tinha condições financeiras. A maternidade era um beco sem saída que acabava na repartição de serviço social.

recem nascidoUma coisa que aprendíamos cedo e com absoluta certeza era que as crianças eram horríveis e que elas cresciam e se tornavam horríveis – egoístas, materialistas, incapazes de intimidade e totalmente sem restrições morais – como adultos, isso é simplesmente uma expressão de causalidade. A cultura hippie, que por fim tomou conta de todas as instituições do mundo ocidental, afirmava que os seres humanos eram “livres”, o que significa livres para serem terríveis.

hippie (1)Seja de maneira intencional ou não, o resultado final foi que a nossa cultura se tornou aquela que não apenas odiava as pessoas, mas produzia pessoas dignas de serem odiadas. O entrincheiramento profundo de ideologias e práticas anti-humanas; o divórcio, a contracepção, o aborto, o controle populacional e, finalmente, a eutanásia, procedem do ódio à vida humana que confirmamos pela nossa própria experiência pessoal cotidiana.

Como crianças crescendo no epicentro desse vasto experimento filosófico, ouvimos a mensagem todo dia, de nossos próprios pais, das escolas, dos programas e filmes de televisão, em voz alta e em muitas palavras ou de maneira mais sutil, que a maternidade era uma forma de escravidão a ser evitada a qualquer custo e a gravidez era uma doença horrível, deformante e com risco de vida. (O filme Alien – o 8º Passageiro de Think Ridley Scott e o seu monstro que se arrojava do peito do personagem e aquele filme de terror chamado Anjo Maldito sobre um bebê deformado e malvado.) Esses poucos de nós que tínhamos famílias mais numerosas do que as nossas mães solteiras e ocasionalmente pais visitantes, aprenderam a considerá-los com desconfiança. Divórcio e abandono estavam ao nosso redor, perseguindo aqueles que ainda tinham dois genitores, como um lobo à espreita bem atrás da luz de uma fogueira.

Todas as instituições de nossa cultura eram desdenhadas e menosprezadas pelos nossos anciãos; Vietnã, a Baía dos Porcos e o Watergate e todas as demais parafernálias históricas dos anos 60 haviam desacreditado o governo. As grandes empresas estavam tentando envenenar a nós e a “ecologia,” como chamávamos o meio ambiente naqueles dias. A Igreja era claramente um mal e existia somente para oprimir as mulheres e entrincheirar servidão doméstica; e o cristianismo era um conto de fadas absurdo para velhinhas tolas ou uma ferramenta de justiça social.

hippies2Crescemos sem pais, sem valores morais, sem instituições sociais, desconfiando de tudo e de todos que a nossa cultura oferecia como consolo. Dificilmente alguém poderia se surpreender que a “Geração X,” como éramos chamados, mergulhamos de cabeça no sexo, drogas e niilismo dos anos 80.

Creio que os pró-vidas, em sua maioria, vindos de um mundo diferente, muitas vezes se sentem aturdidos e chocados com a aversão que geram lá fora. Eles olham para a foto de um bebê e pensam “que fofo!”. Mas nós que crescemos “lá fora” éramos treinados desde bem cedo na vida para olharmos para a mesma foto e vermos uma ameaça mortal. Talvez seja difícil lembrar a dimensão do impacto que a cultura do divórcio teve sobre as pessoas da minha idade e as mais jovens. Nenhum de nós tinha qualquer noção de estabilidade ou segurança doméstica, e aqueles de nós que haviam se convertido à causa muitas vezes são convencidos de maneira mais intelectual do que emocional.

Talvez seja útil para as pessoas que estão entrando no debate sobre o aborto e questões relacionadas lembrar que eles nos odeiam por algum motivo. Ele é errado e se baseia em mentiras, mas não é por acaso ou algo inexplicável.

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