Ernesto Juliá Dias
“Nossa Igreja na China, particularmente os leigos, sempre conservou a piedade, a fidelidade, a sinceridade e a devoção dos primeiros cristãos, apesar de haver sofrido cinquenta anos de perseguições”.
As sessões do Sínodo dos bispos, que está se celebrando em Roma, estão abertas a todo tipo de intervenções e de iniciativas. Entretanto, é possível que não se esperasse de nenhum dos participantes um testemunho mais claro e preciso do que aquele que acabaram de receber da China.
O bispo Lucas Ly Jingfeng, que não pode viajar a Roma, escreveu uma carta em latim ao Papa, para manifestar sua adesão à Sé de Pedro, e para “consola-lo na Fé”.
Sim, é o que escrevi: “Consolar o Papa na Fé”. O bispo se comoveu ao ler a lamentação de Bento XVI sobre o estado da fé em algumas nações de raízes católicas. “Em vastas zonas da terra a fé corre perigo de apagar-se como uma chama que não encontra mais alimento. Estamos diante de uma crise profunda da fé, de uma perda do sentido religioso que constitui o maior desafio da Igreja de hoje”.
E é da China que chegam umas palavras de consolo.
“Espero que nossa fé de cristãos na China possa consolar o Papa. Não menciono a política porque é sempre passageira”.
O bispo Ly Jigfeng sabe onde o homem encontra o verdadeiro alimento de seu espírito. No Ocidente, talvez estejamos demasiadamente emaranhados (…) em uma série de discussões sobre secularismo, relativismo, indiferentismo, etc., etc., que nos impedem de levantar o olhar para a Cruz de Cristo, e com Cristo, elevá-la até Deus Pai; e descê-la depois à terra e descobrir nas pessoas que nos rodeiam, sãs ou enfermas, o rosto de outros filhos de Deus, o rosto de Cristo.
O bispo chinês coloca o problema em seus verdadeiros termos: a Fé. Essa relação de todo nosso ser, não somente da inteligência, nem da razão, nem do sentimento, nem da emoção, nem do instinto, mas a plenitude do “eu”, da pessoa, com Deus que é amor, que se aproximou do homem encarnando-se e entregando a si mesmo na cruz para salvar-nos e reabrir-nos as portas do Céu”.
As perseguições na China foram duras, muito duras. Também porque os fiéis católicos à Igreja e ao Papa, tiveram que sofrer os ultrajes e as injustiças de sacerdotes e bispos traidores e corruptos, vendidos ao poder. Mas, por outro lado, nunca faltaram mártires, sacerdotes e bispos que procuraram viver plenamente a fé, que ainda sob a aparência de um compromisso com o poder o rechaçavam plenamente em seu interior”.
O bispo, depois de expressar o testemunho da fé dos chineses – vinte mil católicos em sua diocese – manifesta sua fé rezando: “Rogo intensamente a Deus para que nossa piedade, felicidade e sinceridade possam curar a tibieza, a infidelidade e a secularização que surgiram no exterior devido a uma liberdade sem limites”.
Os católicos chineses transmitem hoje a toda a Igreja uma mensagem de Fé e de Esperança. Têm vivido profundamente sua liberdade resistindo a insídias, traições, obstáculos, contradições de todo tipo, e a incompreensão de muitos governos que por temor de perder interesses comerciais na China, jamais disseram uma palavra para defender as liberdades – inclusive a religiosa – dos cidadãos chineses.
Os chineses católicos saborearam a alegria da “liberdade dos filhos de Deus” e agora começam a alegrar-se de transmitir a Fé e a Esperança, com a Caridade, às terras que um dia enviaram seus filhos a pregar a Cristo nas margens do Yang-Tsé.
http://www.almudi.org/Noticias/tabid/474/ID/1522/China-tierra-de-esperanza.aspx
(23 de outubro de 2012)
originalmente em ReligionConfidencial.com
(trad. Valter de Oliveira)
DOMINGO, 11 DE NOVEMBRO DE 2012