Em 14 de fevereiro de 1130 morreu o papa Honório II. O povo estava a
gitado com a nova eleição. Duas famílias estavam em confronto desejando o papado. A situação política em Roma estava agitada. Rapidamente, seis cardeais que haviam ficado no mosteiro de S. Gregório, onde o Papa falecera, elegeram Gregório de Sant’Ângelo, que toma o nome de Inocêncio II. Outros cardeais confirmam a escolha. Tudo resolvido? Não! O cardeal Pedro Pierlone, denuncia a rapidez do conclave, agrupa seus amigos e faz-se eleger sob o nome de Anacleto II. Os dois papas são sagrados no dia 23 de fevereiro. Um em Santa Maria Novella, outro em São Pedro. Anacleto, hábil político, sabe distribuir ouro…. Resultado: seu rival é obrigado a sair de Roma e vai se refugiar na França. Problema: quem é o verdadeiro Papa?
O clero francês ainda não tinha se decidido sobre qual era o verdadeiro Papa, se Inocêncio II ou Anacleto II, porque não houve tempo de juntarem as informações a respeito e optarem.
Por essa razão, como a maioria dos Bispos ainda não havia se declarado a favor ou contra o Papa Inocêncio II, o Rei da França, Luís o Grande, achou por bem convocar um Concílio, no qual o Clero se reuniria com os principais Nobres, em Etampès, no ano de 1130. O grande S. Bernardo, religioso mais influente de seu tempo, estava presente e foi convidado a presidir os trabalhos.
A Cristandade está com duas cabeças. Canonicamente, o conflito é insolúvel, porque as duas eleições estão manchadas de irregularidades. Os países dividem-se conforme os seus interesses. Ei-lo, pois, árbitro da Igreja universal em pleno Concílio. O santo abade, diz Luddi, invocou a luz da verdade em orações e examinou as pretensões de Inocêncio e Anacleto, que se achavam representados pelos seus respectivos delegados. Depois de estudar diligentemente a ordem e o procedimento das duas eleições, e os méritos, a vida e reputação de ambos os candidatos, inspirado pelo Espírito de Deus, invoca argumentos de três espécies a favor de Inocêncio II: é moralmente mais digno, foi eleito pela parte mais saudável do Sacro Colégio (apesar de em menor número!…) e foi sagrado pelo bispo de Óstia, segundo a tradição. O concílio aceita a sentença e Luís VI proclama a sua fidelidade a Inocêncio.
Apesar da decisão do santo, do apoio do rei da França e de outros reinos, Anacleto continua a resistir. Foi difícil a Inocêncio retornar a Roma.
Uma das razões foi que o poderoso Guilherme, conde de Poitiers, no final de 1134, novamente passou a apoiar Anacleto, voltando atrás numa promessa feita a Bernardo três anos antes.
O santo convidou-o para uma missa na igreja de La Couldre e, durante a Eucaristia, “”advertiu o duque a não desprezar Deus como ele despreza Seus servos”. Foi um dos mais espetaculares confrontos da Idade Média. (1) Guilherme se submeteu. O cisma terminara na França.
“Mas a situação continua grave porque o antipapa Anacleto acaba de coroar o normando Rogério II como rei da Sicília. Paralelamente, Lotário, em conflito com os Hohenstaufen, vê-se impossibilitado de empreender uma nova expedição ao sul dos Alpes. É preciso, portanto, regularizar os assuntos alemães e Bernardo corre para lá. Em princípios de 1135, atravessa o Reno e aparece em Bamberg, onde o imperador recebe a submissão dos seus inimigos. Depois, passando os Alpes em pleno inverno, desce à Itália, em direção a Pisa, onde Inocêncio II convocou um concílio para calcular os seus partidários. “São Bernardo”, diz um historiador da época, “foi a alma do concílio”.
Anacleto é excomungado e as terras de Rogério feridas de interdito. Delegados de Milão trazem a adesão da grande metrópole, contanto que seja confirmada a deposição do orgulhoso arcebispo Anselmo. O concílio concorda e manda Bernardo à Lombardia para prevenir qualquer incidente. À sua passagem, a multidão agita-se, todos querem vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo e cortar um pedaço da sua túnica. Oferecem-lhe um arcebispado, mas ele recusa. Por caminhos de montanha, escoltado por pastores, regressa a Claraval.
Terminou tudo? Ainda não. Trabalhava no Cântico dos Cânticos, quando recebeu um novo apelo do papa e se dirigiu à Itália pela terceira vez. O exército de Lotário conquistara quase toda a Península, mas Anacleto ocupava firmemente certos bairros de Roma e Rogério era inexpugnável na Sicília. Surgem conflitos entre o papa e o imperador a propósito da Apúlia e do cargo de abade de Monte Cassino. Bernardo soluciona esses problemas e chega até a governar a famosa abadia por algum tempo. Depois, em outubro de 1137, como Lotário, decepcionado e doente, tivesse voltado para o Norte, Bernardo concorda em negociar diretamente com Rogério. Está também muito mal de saúde; ele próprio se compara ao “pálido espectro da morte”. No entanto, corre para Salerno, a fim de encontrar-se com o rei da Sicília e com Pedro de Pisa, o canonista, que apresenta a defesa de Anacleto. As exortações do santo em prol da unidade da Igreja não convencem o rei, mas comovem o canonista, que vem prostrar-se aos pés de Inocêncio.
Mas aproxima-se o fim. Lotário morre em 4 de dezembro e Anacleto em 25 de janeiro de 1138. Alguns obstinados, entre os quais o normando, fazem eleger um novo antipapa, Vítor IV. Este, porém, horroriza-se com o seu sacrilégio e, uma noite, foge do palácio, procura Bernardo e implora a clemência de Inocêncio II. Estava salvo, portanto, tudo aquilo que Bernardo defendera. (…).
Nessa luta de oito anos, em que esteve em jogo nada menos do que a unidade da Igreja, Bernardo foi o grande combatente e o verdadeiro vencedor. No entanto, no auge das honrarias e do triunfo, a que aspirava o interlocutor dos monarcas, a figura central de tantas assembléias? Única e exclusivamente à austera tranquilidade da sua cela. “Volto a toda a pressa”, escreve ele ao prior de Claraval, “e levo uma recompensa: a vitória de Cristo e a paz da Igreja”.
Fontes:
- LUDI, Ailbe J. São Bernardo de Claraval. Lisboa, Editorial Asper, s/d.
- ROPS, Daniel. A Igreja das Catedrais e das Cruzadas. Vol III. Trad. de Emérico da Gama. Quadrante, SP, 1993
- (Eleição do Papa. O cisma anacletino
http://apostoladosagradoscoracoes.angelfire.com/elepa.html)