Percival Puggina
Um amigo interpelou-me: “O que há com vocês, cristãos? Como conseguem ficar inertes perante o que acontece com outros cristãos, mundo afora?”. Não sabia do que ele estava falando. Havia lido sobre o ataque suicida ocorrido há poucos dias, no Paquistão, contra católicos que saíam da missa dominical. Mas pouco além disso. Conhecia as perseguições movidas pelos comunistas. Lembrava-me de um professor cubano que me falou das animosidades a que estava exposto em virtude de haver declarado que “Solo el Señor es mi señor”. Perante minha indisfarçada ignorância, meu amigo, que é judeu, completou: “Não, Puggina, o mesmo acontece em dezenas de países e, não raro, com indizível violência”.
Fui para casa constrangido e intrigado. Pus-me a pesquisar. Enquanto as informações iam aparecendo em reportagens, artigos, fotos e vídeos, descortinava uma realidade continuada, persistente, terrível. Em pleno século 21, se reproduzem, cotidianamente, discriminações, êxodos e massacres que fazem lembrar os martirizados na Roma dos primeiros séculos do cristianismo. Nero, Diocleciano e Geta têm, hoje, nomes pouco conhecidos. São líderes de grupos extremistas e governos totalitários ou fundamentalistas. E atacam com a ferocidade dos leões do Colosseum romano. Leigos e religiosos, de todas as idades, católicos, protestantes e evangélicos são perseguidos, discriminados, segregados, executados e massacrados aos milhares, sem que a mídia ocidental dedique aos fatos maior atenção. E sem que os poderes políticos da comunidade internacional sequer tentem remediar. Em texto recente, Reinaldo Azevedo registrou a denúncia do sociólogo Maximo Introvigne, coordenador do Observatório de Liberdade Religiosa, segundo quem, no ano de 2012, pelo menos 105 mil pessoas foram assassinadas no mundo todo pelo simples motivo de serem cristãs.
É possível que o leitor destas linhas esteja pensando – “Que exagero! Não há de ser tanto assim”. Por isso, convido-o a buscar no Google por “cristãos massacrados” ou perseguidos. Em poucos minutos mudará de opinião. Visite o site da Fundação AIS, ou o da Portas Abertas e conheça os países em que os cristãos são mais intensamente perseguidos. Para cada um, encontrará relatos bem detalhados sobre a realidade local, em ordem decrescente da gravidade da situação vivida pelos cristãos. A Coreia do Norte encabeça a lista. A teocracia comunista do país não admite outro Deus que não seja o Líder Supremo (aquela divindade que quando vem a falecer o PCdoB lastima e chora). Estima-se que cerca de 70 mil cristãos vivam em campos de concentração coreanos, sujeitos a trabalhos forçados e a toda sorte de violências. Quase todos os países listados são islâmicos muito fechados, ou abrigam grupos islâmicos radicais que promovem perseguições por conta própria. Como se lê no Portas Abertas, as 64 nações em que se manifesta alguma ou várias formas de restrição ao cristianismo abrigam a maior parte da população mundial. Esses países costumam ocupar as manchetes por motivos econômicos, políticos ou religiosos, mas raramente são vinculados pela mídia à perseguição, por vezes implacável, a que neles estão sujeitos os adeptos da fé cristã.
Em temas dessa natureza, a experiência ensina que quando a opinião pública e a mídia se manifestam, os governos e as instituições internacionais se mobilizam. Nesta quinta-feira em que escrevo, até o presidente russo Putin falou sobre o tema, apontando a gravidade da situação. Não é admissível que martírio e discriminação impostos pelos Estados, ou tolerados pelos Estados, subsistam na atualidade.
Especial para ZERO HORA, em 06 de outubro de 2013