Valter de Oliveira
Quando iniciamos o site explicamos porquê escolhemos o nome Claraval e contamos brevemente como foi a entrada de S. Bernardo na Ordem de Cister.
Bernardo é também conhecido como cantor da Virgem, tal é a beleza dos textos nos quais ele descreve as maravilhas feitas por Deus em sua Mãe Santíssima. Ou nos quais mostra todo o amor dela por nós.
Confesso que quando li o texto abaixo pela primeira vez fiquei profundamente comovido, tanto pelo conteúdo quanto pela beleza da forma. Na medida em que lia parecia-me que estava em Claraval, ao lado de monges cistercienses e como que sentia o olhar límpido de S. Bernardo sobre todos nós. E então parecia-me ouvir aquela voz melodiosa e profunda que nos chamava a meditar em uma frase do evangelho de S. Lucas: E o nome da Virgem era Maria.
“Permiti-me que diga algo em referência a este nome a que se atribui o significado de “Estrela do Mar” e se adapta admiravelmente à Virgem Mãe. Existe realmente uma maravilhosa propriedade nesta sua comparação a uma estrela, pois assim como uma estrela emite os seus raios sem detrimento próprio, também a Virgem concebeu o seu Filho sem prejuízo para a sua integridade. E assim como os raios emitidos não diminuem o brilho da estrela, tampouco a criança nascida manchou a beleza da virgindade de Maria. Ela é, portanto aquela estrela gloriosa que, segundo a profecia, surgiu de Jacob, iluminando toda a terra com um esplendor magnificente que sobe aos céus e alcança o próprio inferno; uma estrela que, derramando a sua luz sobre o universo e comunicando o seu calor mais às almas do que os corpos, fortalece a virtude e extingue o vício. Ela, repito, é aquela estrela resplandecente e brilhante colocada como farol necessário sobre o mar extenso e amplo da vida, cintilando com virtudes, luminosa de exemplos para serem imitados. Oh! quem quer que se aperceba durante esta existência mortal de que flutua em águas traiçoeiras, à mercê dos ventos e das ondas, em vez de caminhar com segurança em terreno sólido, nunca afaste os olhos da luz deste farol, a não ser que deseje submergir-se na tempestade.
Quando a tempestade da tentação vos assaltar, quando vos virdes arrastados para os rochedos da tribulação, erguei os olhos para a estrela, chamai por Maria. Quando acometidos pelas vagas do orgulho, da ambição, do ódio ou da inveja, erguei os olhos e chamai por Maria. Se a cólera, a avareza ou o desejo carnal invadirem violentamente a pequena embarcação de vossa alma, erguei os olhos e chamai por Maria. Se, atormentados pela gravidade de vossos pecados, esmagados pelo estado de vossas consciências e aterrorizadas pelo lastimável estado das vossas consciências e aterrorizados pela idéia do julgamento final vos sentirdes prestes a soçobrar no golfo sem fundo da tristeza e ser engolidos pelo abismo negro do desespero, ó, pensai então em Maria! Em perigos, na dúvida, em todas as dificuldades, pensai em Maria, chamai por Maria.
Que o seu nome nunca se afaste dos vossos lábios nem permitais que abandone o vosso coração. E, a fim de que possais obter com maior segurança a resposta às vossas preces, nunca deixeis as suas pisadas. Com ela por guia nunca vos extraviareis; enquanto a invocardes nunca perdereis a coragem; desde que ela permaneça no vosso espírito estareis livres de desenganos; enquanto vos segurar na mão não tropeçareis; sob a sua proteção nada tereis a recear; se caminhar à vossa frente nunca vos cansareis; se vos mostrar a sua preferência alcançareis o vosso fim. Conhecereis assim a verdade do que está escrito:
E O NOME DA VIRGEM ERA MARIA.
(Luc., 1,27)
Que a Virgem, Vida, Doçura e Esperança nossa, ajude a cada um de nós, nesta Quaresma, a seguir com serenidade e alegria o caminho de seu Divino Filho.