POR QUE NÃO HÁ PAZ NA TERRA?

Valter de Oliveira

Valter de Oliveira

Os atuais conflitos em várias partes do mundo, as ameaças terroristas, as loucuras dos sequazes do Estado Islâmico, o martírio de inúmeros cristãos, fazem com que na Igreja e no mundo mais e mais vozes clamem por paz. É um clamor necessário. Terá efeito?

Eis o que nos diz S. Josemaria Escrivá (1):

“Pax in coelo”, paz no céu. Mas olhemos também para o mundo: por que não há paz na Terra? Não, não há paz na Terra. Há somente aparência de paz (2), equilíbrio de medo, compromissos precários. Não há paz nem mesmo na Igreja, sulcada por tensões que retalham a alva túnica da Esposa de Cristo (3). Não há paz em muitos corações que tentam em vão compensar a intranquilidade da alma com o bulício contínuo, com a pequena satisfação de bens que não saciam, porque deixam sempre o sabor amargo da tristeza”.

Vale lembrar que nações e povos são formados por homens. Se estes seguem as veredas do mal não há como haver verdadeira paz na terra.

Santo Agostinho ensina: A paz é a tranquilidade na ordem. Se não há ordem em nossa alma não há como termos paz. Se não há ordem no mundo, se os valores estão invertidos, se o dinheiro, o poder e a sensualidade estão em primeiro lugar, só poderemos colher violência e maldade, angústia e desespero.

A paz, ensina-nos também S. Josemaria, está em Cristo:

“Cristo, que é a nossa paz, é também o Caminho. Se queremos a paz, temos que seguir os seus passos. A paz é consequência da guerra, da luta, dessa luta ascética, íntima, que cada cristão deve sustentar contra tudo o que em sua vida não for de Deus: contra a soberba, a sensualidade, o egoísmo, a superficialidade, a estreiteza de coração. É inútil clamar por sossego exterior se falta tranquilidade nas consciências, no fundo da alma, porque do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias”(4).

Alguém pode dizer que, na vida das nações atuais, não há como se falar em Cristo. É verdade. As nações da antiga Cristandade hoje rejeitam suas raízes cristãs, emaranharam-se no cipoal liberal laicista e nas falácias das ideologias de esquerda. O islamismo radical afasta-se cada vez mais não só de ideais religiosos verdadeiros mas até de qualquer vestígio de civilização e humanidade. Ditadores e radicais africanos estão imersos no que há de pior em sua cultura e nas ideologias utópicas da civilização ocidental na procura doentia pelo poder. Apesar disso tudo todos têm em sua alma a lei natural, estabelecida por Deus. Esta também foi rejeitada até mesmo em setores da Igreja que não são marxistas mas que estão se deixando embair pelos sofismas do laicismo.

Enquanto os homens não aceitarem pelo menos este mínimo não poderá haver paz na Terra. Poderemos clamar por paz o quanto quisermos; estaremos apenas arando o mar.

Notas:

  1. S. Josemaria Escrivá. É Cristo que passa – homilias. A luta interior. P. 74. São Paulo: Quadrante, 1976.
  2. Estas palavras foram escritas durante o período de distensão da Guerra Fria.
  3. O destaque em negrito é meu. A divisão no seio da Igreja, conhecida como a crise pós-Concílio é aqui claramente reconhecida por um santo que nada tem de pessimista. A crise, que pareceu diminuir nos pontificados de S. João Paulo II e Bento XVI, irrompeu recentemente de modo ainda mais forte.
  4. S. Josemaria Escrivá. Op. cit. p. 74.

 

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