O que está acontecendo na Igreja?
Valter de Oliveira
O episódio de Aparecida, no qual o reitor do Santuário celebrou uma missa em se pedia a libertação de Lula, causou uma fortíssima reação de fiéis católicos, indignados com o que consideraram uma profanação. Por vários meios fizeram chegar aos responsáveis pelo ato seus protestos acalorados. Os protestos atingiram seu objetivo. Em poucos dias os responsáveis pelo Santuário publicaram nota de reparação pedindo desculpas. (1)
Vários amigos perguntaram-me como era possível que religiosos tivessem a ousadia de atuar de tal modo em um local tão sagrado. O sentimento de perplexidade era muito forte. Chegaram a me perguntar que sugestões eu teria…
Será que fatos como esse são episódios isolados na Igreja em nossos dias? Ou são apenas pontas de iceberg que indicariam que há algo muito mais grave acontecendo? Nesse caso, o que fazer?
Tenho trocado ideias sobre o assunto com muitos amigos, pessoalmente ou por escrito. As opiniões divergem. Alguns, pouco sabem do que acontece na vida da Igreja, a não ser casos esporádicos veiculados na grande mídia. Há até quem não acompanhe as mídias sociais. Outros conhecem mais e – apesar de notícias preocupantes que leem – julgam que há muito exagero no que é propagado pela mídia. Acreditam que o mal existe, que ainda há certa crise na Igreja, mas bem menor que a ocorrida nos anos 70. Para justificar apontam o crescimento do apostolado de instituições católicas e seus associados. Finalmente, há aqueles que acreditam que a crise na Igreja vem se aprofundando e infestando inúmeros espaços da vida católica, tanto no campo moral quanto no dogmático. Crise que estaria crescendo graças à persistência da hierarquia em adotar e manter uma ação pastoral equivocada.
Quem tem razão?
Todo diagnóstico exige uma leitura correta da realidade da Igreja hoje. Para isso, tanto o bom jornalista quanto o historiador sério, precisam procurar fontes confiáveis.
Lembremos como dizem os papas, que assim como um bom católico deve estar atento à realidade temporal e, a partir de seu campo de atuação, tentar influenciá-la com valores transcendentais e cristãos, tem a mesma obrigação – e até maior – em relação a toda a Igreja. Deve cuidar primeiro de sua vida espiritual, é verdade, mas isso não é possível fazer sem que a conheça e ame em todas as suas dimensões. Ou seja, conhecer, o quanto possível, o que ocorre nas suas fileiras.
Ora, esse é o papel da mídia. Informar de forma objetiva, com todos os cuidados que sua missão exige. Máxime a mídia católica.
Neste sentido lembramos aqui palavras de Leão XIII sobre o papel do historiador:
“Demasiadas vezes, no período precedente, uma certa apologética tinha negligenciado as regras mais elementares de lealdade e de verdade: até se chegara a ler, em La Croix, protestos contra as fantasias “históricas” de alguns manuais de religião. Daí em diante, a regra absoluta foi a que Leão XIII fixou no seu Breve dirigido à Comissão de História (dos Cardeais):
“Que a História não ouse dizer nada que seja falso, nem silenciar nada que seja verdadeiro”. Ideia que o papa precisava ainda mais numa Carta de 8 de setembro de 1899 ao clero francês: “O historiador da Igreja será tanto mais forte para fazer ressaltar a sua origem divina, superior a qualquer conceito de ordem meramente terrena e natural, quanto mais houver sido leal em nada dissimular das provações que os pecados dos seus filhos, e por vezes mesmo dos seus ministros, fizeram sofrer a esta Esposa de Cristo ao longo dos séculos”.
“Assim entendida, a História ia passar a ser, nas mãos de especialistas católicos, tão bem formados nos métodos científicos como os seus pares, a melhor aliada da Apologética. Melhor dizendo: ela própria é uma apologética eficaz, apologética da Verdade”. (Daniel Rops, tomo X – o destaque em negrito é do site)
Na mesma linha é bom lembrar, como diz Carlos Alberto di Franco, que “trabalhar a informação religiosa com rigor e isenção é um desafio”. Implica como dissemos, em escolher as fontes de informação que são realmente fidedignas, no campo católico ou fora dele.
Fiel a esses princípios postamos hoje no site Claravalcister três diferentes análises sobre a situação da Igreja nos dias de hoje. O primeiro foi escrito por Ross Douthat, do New York Times, reproduzido pelo jornal “O Estado de São Paulo”. O segundo, de 2016, mas ainda plenamente atual, é de autoria de Frei Betto, e nos mostra uma visão do mundo católico que representa muito bem o pensamento de teólogos e hierarcas da ala progressista. Corrente, ressalto eu, que teve enorme importância no último Sínodo. O terceiro é uma defesa entusiasmada do Papado e do Papa Francisco escrita pelo jornalista Carlos Alberto di Franco.
Espero que os três artigos (2) contribuam para ajudar os leitores a entender o que se passa na Igreja em nossos dias.
Termino com outra questão: como é possível narrativas tão diferentes sobre a mesma realidade?
Notas:
- Veja aqui os signatários do documento e a íntegra do texto. https://pt.aleteia.org/2018/05/24/santuario-pede-perdao-por-romaria-e-missa-em-intencao-de-lula/
2. https://www.claravalcister.com/igreja/papa-assume-riscos-e-mostra-indicios-de-mudancas-na-igreja/
https://www.claravalcister.com/igreja/francisco-quer-a-igreja-fora-das-igrejas/
https://www.claravalcister.com/igreja/a-magia-do-papado/