OS ÍNDIOS DO BRASIL TORTURADOS PELO SULTÃO DO MARROCOS

A HIGIENE NAS NAUS PORTUGUESAS - VÍRUS DA ARTE & CIA.

Luiz Roberto Curtarello

Em 1690 uma nau portuguesa saindo da capitania da Paraíba rumo a Lisboa foi assaltada por piratas do Norte da África e sua tripulação levada para o Marrocos como escravos. Na época o Reino do Marrocos era chefiado pelo temido Sultão Moulay Ismail, que ficou infame na Europa pelos ataques de sua frota de piratas que escravizaram milhares de pessoas no Mediterrâneo. Entre a tripulação da nau portuguesa, os marroquinos notaram a presença de quatro jovens de aparência exótica, eram índios tupis, da Paraíba, de nomes: José, Joaquim, Pedro e Estevão, a caminho de Portugal para serem educados e ordenados padres.

Os jovens índios brasileiros foram levados à presença do Sultão Moulay que os convidou para morar em seu Palácio como seus empregados, se converterem à fé islâmica e terem relações sexuais com suas concubinas. Para o descontentamento do marroquino, os índios recusaram tal ideia, afirmando que “preferiam a morte a deixarem de seguir as leis de Cristo”. Diante da negativa dos meninos, estes passaram a sofrer os mais terríveis suplícios. Mulay Ismail ordenou que os índios fossem torturados até que negassem a sua fé. O menino José, de trezes anos de idade, não resistiu às longas horas de açoites e acabou morrendo.

Para sorte dos outros três jovens, o sultão do Marrocos recebeu a visita da embaixada do Franciscano espanhol Gaspar Gonzales que, como de costume, negociava a soltura de escravos cristãos em seu reino. Em troca de alguns quilos de ouro e cavalos ,os índios sobreviventes foram libertos da escravidão e levados para Arzila, na época sob domínio espanhol. Segundo o viajante britânico Thomas Pellow, o sultão gostava de torturar seus escravos com um bastão feito de Pau Brasil, capturado de uma nau portuguesa.

Segundo relato de Frei Domingos do Loreto Couto, antes de morrer, o menino índio José teria dito ao Sultão Mulay: “Tu me lastima de meus poucos anos, e eu me lastimo da tua cega obstinação, pois nela te espera a morte eterna, e na minha morte temporal espera a glória eterna”

Depois de serem resgatados pelos franciscanos, o paradeiro dos jovens índios é desconhecido, sendo provável que tenham sido ordenados padres em Portugal no início do Século XVIII.

Na sua obra nativista “Desagravos do Brasil e Glória de Pernambuco” (1757) o cronista beneditino Domingos do Loreto Couto relata o martírio dos índios brasileiros no Marrocos como exemplos de fé a serem seguidos por todos os católicos.

Fonte: Empire of Clay: The Reign of Moulay Ismail, Sultan of Morocco (1672-1727)/ Heróis Indígenas do Brasil: Memórias sinceras de uma raça

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