AS ORÍGENS DO ECUMENISMO. PARTE 1

Edison Minami*

Ecumenismo

Que todos sejam um, para que o mundo creia (Jo 14, 21 e segs). De uma maneira abreviada – e vaga! – costuma-se citar essa passagem dos evangelhos para explicar as origens neo-testamentárias do ecumenismo e de todo o esforço por colocar em movimento (ecumênico) todo o esforço em reunir os cristãos.

Aos olhos do mundo a Igreja está dividida, enfraquecida, relegada a um segundo plano mas Deus nunca deixou de ampará-la nem nos momentos mais tensos da história humana. A força do Espírito Santo nunca nos abandona se nós não abandonarmos Deus, muito menos a Igreja que Jesus fundou. Sob os escombros de brigas e desentendimentos de todos os tipos, ainda está vivo o sonho de Deus que quer que se atinja o número dos eleitos, pois Ele mesmo havia nos alertado de que: “tenho ovelhas que não estão neste aprisco”.

Para fins didáticos, nas próximas semanas espero publicar aqui alguns pontos  de pesquisas que realizei nos últimos anos, e espero que elucidem esse tema tão espinhoso que, de uma forma inesperada e infeliz, a Campanha da Fraternidade de 2021 trouxe para o conhecimento público.

Um dos pontos cruciais para o início do entendimento ecumênico é entender a origem das divisões, e para isso é preciso adentrar a história da Igreja. Somente sob uma leitura histórica é possível entendermos como as coisas chegaram ao estado atual.

Há muitos anos escrevi:

“[…] a partir da Reforma no séc. XVI o mundo cristão sofreu com a cisão que daí se originou. A partir daí, as missões tanto de protestantes, quanto de católicos em todo o mundo, revelaram um agressivo espírito de competição entre as diversas denominações. Competições que provocaram até uma longa guerra, como no caso da Invasão Holandesa no Brasil.

As divisões e conflitos entre as confissões cristãs ocorreram também na África e na Ásia- que viam nos dois continentes um gigantesco campo de atuação – mas, paradoxalmente, também deu aos cristãos a consciência do problema que era a divisão. Ao final do séc XIX começaram a se esboçar projetos para uma maior união entre as diversas denominações, resultando no Congresso de Edimburgo, em 1910, inicialmente voltado para o trabalho missionário. A quase totalidade dos participantes era formada por protestantes (1).

O congresso foi o passo inicial para importantes movimentos como Faith and Order (Fé e Ordem), dedicado aos aspectos espirituais da vida cristã] e  Life and Work (Fé e Trabalho), dedicado à ação social dos cristãos, e o Movimento Missionário Mundial. Desse esforço nasceu o chamado Movimento Ecumênico.

Faith and Order e Life and Work atuaram paralelamente até 1948, quando na Primeira Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (em inglês World Council of Churches – WCC) as duas entidades se uniram. Nessa ocasião estavam presentes cerca de 350 delegados representando 147 Igrejas de 44 países. Em 2005 já existiam mais de 300 Igrejas filiadas. O Conselho Missionário Mundial só ingressou em 1961 durante a Assembleia de Nova Délhi – Índia. O CMI re-introduziu a acepção do termo ‘oikoumene’ [ecumenismo] como a reunião de todos os cristãos. Essa era a acepção defendida pelo idealizador do CMI, o bispo luterano de Uppsala-Suécia, Nathan Soderblom: a criação de uma Entidade que trabalhasse a ‘oikoumene’ dentro desses novos limites. (2- ver os limites iniciais)

Enquanto isso, mais especificamente no dia 25 de janeiro de 1959, João XXIII anunciou a intenção de convocar um Concílio Ecumênico para toda a Igreja Católica Romana. O concílio marcou a entrada oficial da Igreja Católica no movimento ecumênico com a criação do Secretariado para a Unidade dos Cristãos.

O movimento ecumênico queria reunir o mundo protestante dividido em milhares de denominações, muitas delas com quase os mesmo ritos e liturgias, mas de qualquer modo estavam divididos. Neste sentido lembremos que ainda no Congresso de Edimburgo um missionário oriental – infelizmente não se registrou seu nome – admitiu que os orientais eram gratos por terem sido apresentados a o Cristo mas, completou ele, por outro lado havia muitos Cristos: o dos católicos, dos metodistas, dos luteranos, dos reformados, e assim por diante…

O ecumenismo do começo do século XX não incluía os católicos. Seu objetivo era primeiro a união entre os protestantes. Esta era importante para poderem enfrentar a fé romana de igual para igual. Com o tempo isso foi mudando.

Na próxima postagem abordaremos a entrada do catolicismno movimento ecumênico.

(Cf.: https://teologiadahistoriabrasil.blogspot.com/2021/03/ecumenismo-origens-parte-01-de-onde.html

Notas:

  1. Certos autores consideram que o “O movimento ecumênico é uma das mais importantes marcas do século XX, desde que se considere válido o pressuposto da importância da religião no desenrolar da história humana” (Antonio Gouvea Mendonça: O movimento ecumênico no século XX – algumas observações sobre suas origens e contradições.

http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=236&cod_boletim=13&tipo=Artigo

  • Importante lembrar os limites do movimento ecumênico inicial: a união entre os cristãos. Não se via a possibilidade de incluir nele certas “religiões populares” ou as grandes religiões orientais. Pelo menos não na opinião de Antonio Gouvea Mendonça. Ver link acima.

Edison Minami é doutor em História Social pela USP.

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