PERDOAR. O VERDADEIRO AMOR CRISTÃO

Introdução

Valter de Oliveira

Nesta semana, ao fazer minha oração e leitura espiritual, encontrei duas meditações sobre o mesmo assunto no site do Opus Dei. O comentário era sobre o Evangelho de S. Mateus do dia. Tema: o amor ao próximo e aos inimigos.

Sabemos que o maior dos mandamentos consiste em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Amores que não podem ser dissociados.

Tudo o que há no Evangelho é divino e deve ser amado com toda nossa alma. Especialmente este texto que exprime de modo sublime o que é o verdadeiro amor cristão.

Que a Virgem Maria nos conceda a graça de seguirmos fielmente o que Cristo nos ensinou.

Seguem os textos. (claravalcister)

Evangelho (Mateus 5, 43-48)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Vós ouvistes o que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!” Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.

Comentário

(…)

O breve trecho que a Igreja nos convida a considerar hoje recolhe a essência da doutrina do Senhor em relação ao amor e à misericórdia que nós, os cristãos, somos chamados a viver com todos, e que se manifesta, de modo especial, no perdão.

Na bula de proclamação do Jubileu da Misericórdia de 2016, o Papa Francisco explicava:

“Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”[1].

A medida de Cristo na Cruz é um amor sem medida, um perdão que abraça a todos. A exigência do Senhor é muito alta, e nós somos chamados a imitá-Lo também neste Amor a todas as pessoas.

Reflexão para meditar no sábado da 1ª semana da Quaresma.

Os temas propostos são: Jesus nos ordena a amar nossos inimigos;  Deus faz chover sobre os bons e os maus;  Levar o campo de batalha para nossa própria vida


“AMAI os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem” (Mt 5,44). Essas indicações de Cristo estão entre as mais surpreendentes da sua pregação. Talvez muitas vezes elas contrastem com as nossas reações mais imediatas. Percebemos que essas palavras não sugerem uma reação superficial, como se simplesmente nos pedissem para ceder a quem nos faz o mal. É muito mais: devemos amar e rezar.

“As palavras de Jesus são claras (…). Não é opcional, é uma ordem. (…). Ele sabe muito bem que amar os inimigos vai além das nossas possibilidades, mas foi por esta razão que se fez homem: não para nos deixar tal como somos, mas para nos transformar em homens e mulheres capazes de um amor maior, aquele do seu e do nosso Pai (…). Este mandamento, de responder ao insulto e à ofensa com o amor, gerou no mundo uma nova cultura: a cultura da misericórdia (…). É a revolução do amor, em que os protagonistas são os mártires de todos os tempos”[1].

Para conseguir isso, poremos toda a nossa esperança na graça. “Guardarei as vossas leis; não me abandoneis jamais” (Sal 119,8), pedimos com o salmo. Essa ajuda de Deus não só atua em nossa vontade, mas também na inteligência e no coração. “Penso que não tenho inimigos – escrevia São Josemaria, numa época de perseguições. Na minha vida, encontrei-me com pessoas que me causaram algum mal, um mal positivo. Não acho que sejam inimigos: sou muito pouca coisa para tê-los. No entanto, a partir de agora, eles e elas ficam incluídos na categoria dos meus benfeitores, para que se peça a Deus por eles, diariamente”[2].

“QUE RAZÃO TENS para não amar? – Pergunta-se São João Crisóstomo. Que o outro respondeu aos teus favores com injúrias? Que quis derramar teu sangue em agradecimentos por teus benefícios? Mas, se amas por Cristo, essas são razões que devem te mover a amar ainda mais. Porque o que destrói as amizades do mundo, isso é o que afiança a caridade de Cristo. Como? Primeiro, porque este ingrato é para ti causa de um prêmio maior. Segundo, porque ele precisamente necessita de mais ajuda e cuidado mais intenso”[3]. Como o mundo seria cinza se todas as pessoas fossem iguais e se todos parecessem para nós igualmente agradáveis. A realidade não é essa, e Jesus nos pede que amemos, rezemos e sirvamos a todos. Pensar o contrário, traz-nos à cabeça as palavras de Caim, impregnadas de inveja e ódio: “Sou eu, porventura, o guarda do meu irmão?” (Gen 4,9).

Se dirigirmos o olhar a Cristo, ressoa em nossa alma o seu amor a todos os homens: “Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45). “Hoje, nos fará bem pensar num inimigo – creio que todos nós temos um – alguém que nos fez mal ou que nos quer fazer mal ou tenta nos prejudicar: Rezemos por ele. Peçamos ao Senhor a graça de amá-lo”[4]. No entanto, não é preciso pensar em lugares distantes, em campos de batalha ou inimigos poderosos. Talvez no nosso próprio lar tenhamos que lutar por compreender, perdoar e não guardar rancor de um irmão, uma filha ou do nosso cônjuge. Quantas vezes pudemos comprovar como a graça faz possível o que antes sequer tínhamos imaginado.

“OS HOMENS sem remédio são aqueles que deixam de prestar atenção em seus próprios pecados para reparar nos pecados dos outros –escreve Santo Agostinho. Não procuram o que é necessário corrigir, mas em que podem morder. E, ao serem incapazes de escusarem-se a si mesmos, estão sempre dispostos a acusar os outros”[5]. Empreender a tarefa de amar os inimigos traz como consequência que, ao mesmo tempo, aprendemos a colocar o foco em nossa debilidade, em nossas faltas, em tudo aquilo da nossa vida que ainda deve identificar-se com Cristo. Esta atitude está impregnada de um realismo muito mais prático, porque o que podemos realmente mudar, ajudados por Deus, é o que temos em nosso coração. Abandonamos um campo de batalha de fantasia – a vida dos outros – para encher o mundo de bem, a partir de uma luta muito mais próxima. Deixamos que Deus mude o curso da história, enquanto nós retificamos o rumo que temos em nossas mãos.

“Temos que compreender a todos, temos que conviver com todos, temos que desculpar a todos, temos que perdoar a todos. Não diremos que o injusto é justo, que a ofensa a Deus não é ofensa a Deus, que o mau é bom. No entanto, perante o mal, não responderemos com outro mal, mas com a doutrina clara e com a ação boa: afogando o mal em abundância de bem (cfr. Rom 12, 21)”[6]. Não se trata de não corrigir quando a circunstância assim o mereça. Também não se trata de ser ingênuos, mas todo o contrário: trata-se de adquirir a sabedoria de Deus. O amor maduro, generoso e discreto é capaz de se esquecer dos agravos, não tem em conta as falta de apreço, arma-se de coragem e imita Cristo ao pé da cruz: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Podemos pedir a Nossa Senhora, rainha da paz, que nos ensine a amar a todos os seus filhos, a rezar por aqueles que talvez nos tenham prejudicado, e que nos ajude a trazer o campo de batalha para a nossa própria alma.

Notas:

[1] Francisco, Ângelus, 24/02/2019.

[2] São Josemaria, Caderno 4, 28/10/1931, citado em Caminho. Edição comentada, p. 810.

[3] São João Crisóstomo, Homilia sobre são Mateus, 60, 3.

[4] Francisco, Homilia, 19-VI-2018.

[5] Santo Agostinho, Sermão 19.

[6] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 182.

Fontes:

  1. https://opusdei.org/pt-br/article/meditacoes-sabado-da-primeira-semana-da-quaresma/

     2.  https://opusdei.org/pt-br/gospel/

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