O elogio de S. José por São Bernardo de Claraval
HOMILIA QUE CONTRIBUIU ENORMEMENTE PARA POPULARIZAR A DEVOÇÃO AO SANTO PATRIARCA
“Como e de que forma era grande a dignidade de José podereis depreender pelo título com que, embora fosse puramente oficial, mereceu ser honrado por Deus, pois foi chamado e considerado seu pai. Pode igualmente conjeturar-se do seu próprio nome, o qual significa indubitavelmente “geração”. Recordai ao mesmo tempo o ilustre patriarca que foi vendido outrora ao Egito, e ficai convictos de que o esposo de Maria herdou, não apenas o seu nome, mas a sua castidade, com a sua graça e inocência. O outro José, ao ser vendido ao Egito pela inveja de seus irmãos, simbolizava a traição a Cristo por seus apóstolos; ao passo que este José, para escapar à inveja do Rei Herodes, fugiu de noite para o Egito com o seu Salvador. O primeiro, fiel à sua lealdade respeitava a honra de seu senhor na sua ama; o outro, ao reconhecer em sua esposa a Virgem Mãe de Deus, tornou-se testemunha e guarda de sua integridade. O primeiro fora doado com o poder de compreender visões e sonhos proféticos; o outro foi privilegiado para tornar-se confidente dos desígnios misteriosos de Deus e colaborador na sua consumação. O primeiro preservou o trigo, não para ele, mas para o povo: o outro foi escolhido para preservar em si e para todo o mundo, “O Pão Vivo que desceu do céu” (João, 6, 51). Não pode subsistir dúvida alguma de este José com o qual estava desposada a Mãe do Salvador, era singularmente bom e fiel. Era, afirmo, “o servo bom e fiel” (Mat., 25,23) a quem o Senhor nomeou consolador de sua Mãe, amparo de sua Humanidade, e seu mais fiel colaborador na terra na execução se afirma haver estado na casa de Davi (Mat.,1,20). É certo que este José descendia de Davi e possuía sangue real, porém embora nobre por ascendência, era-o ainda mais por suas virtudes e caráter”.
“Era na verdade filho de Davi e bem digno de um pai tão poderoso. Era, afirmo, o filho de Davi, e não somente por sangue, mas igualmente pela fé, devoção e santidade. A ele, como ao outro Davi, o Senhor considerou digno do seu coração (I Reis, 13, 14) e de poder confiar-lhe com sua segurança o segredo mais recôndito e sagrado de Sua alma. A José, portanto, como a seu pai Davi, Ele revelou as coisas incertas e ocultas da sua sabedoria (Sal. 150, 8), e permitiu-lhe o conhecimento daquele mistério que príncipe algum deste mundo conhecia (1 Cor.,2,81). Sim, e o Redentor, ao qual muitos reis e profetas desejavam ver e não viam, desejavam ouvir e não ouviam, permitiu a José, não só que o visse e ouvisse, mas ainda que o tomasse nos braços, o conduzisse pela mão, o abraçasse, o beijasse, o sustentasse, o protegesse”. (LUDDY. Ailbe J. , Bernardo de Claraval, Editorial Aster, Lisboa, trad. de Eduardo Saló, s.d.(p. 91, 92)