- O que o homem não pode emendar em si mesmo ou nos outros, deve suportar com paciência até que Deus disponha de outro modo.
Considera que assim convém para provar tua paciência, sem a qual os nossos méritos não merecem grande estima.
Deves, porém suplicar a Deus que te ajude, para que, de boa vontade, possas vencer estes obstáculos.
- Se alguém, uma ou duas vezes admoestado, não se emenda, não porfies com ele; mas entrega tudo a Deus, para que a sua vontade seja feita e ele, que sabe converter o mal em bem, seja glorificado em todos os seus servos. Procura sofrer, com paciência, os defeitos e quaisquer imperfeições alheias; pois que tu tens muito que te sofram os outros.
Se não podes a ti mesmo fazer-te qual desejas, como pretendes sujeitar os outros a teu talante?
Facilmente queremos que os outros sejam perfeitos e, nem por isso emendamos nossas faltas.
- Queremos que os demais sejam castigados com rigor e, quanto a nós, não queremos ser repreendidos.
Descontenta-nos a liberdade alheia e não queremos que se nos recuse o que pedimos.
Agrada-nos que os outros sejam sujeitos aos estatutos e não toleramos nenhum constrangimento que nos coíba.
Donde se vê quão raras vezes tratamos o próximo como a nós mesmos.
Se todos fossem perfeitos, que teríamos de sofrer por amor de Deus?
- Assim, porém Deus o permitiu, para que aprendamos a carregar os fardos uns dos outros, porque ninguém há sem defeito, ninguém sem carga; ninguém com critério e força bastante para guiar a si mesmo; cumpre, pois, que uns aos outros mutuamente nos suportemos, consolemos, ajudemos, instruamos e aconselhemos.
Na hora da adversidade é que melhor se manifesta a virtude de cada um.
Na verdade não são as ocasiões que fazem o homem fraco, revelam apenas o que ele é.
Imitação de Cristo, Tomás de Kempis,15ª edição, Paulinas, São Paulo, 1981