+ Javier Echevarría
Prelado do Opus Dei
Mais uma vez, milhares de jovens de todo o mundo se reunirão ao redor do Santo Padre. Vão deixar por alguns dias as suas casas, os seus estudos ou atividades cotidianas para celebrar juntos a beleza da fé cristã e da Santa Igreja.
A intuição de São João Paulo II, que propôs aos jovens estes encontros há 30 anos, tornou-se parte das vidas de moças e rapazes do mundo inteiro, católicos ou não.
Agora, esta Jornada de 2016 retorna às raízes geográficas e espirituais do santo Pontífice polonês: ali a misericórdia voltará a ser a faísca que vai abrasar tantos desejos de entrega a Deus, de serviço aos outros. Nos ouvidos daqueles que atravessarão a Europa, a caminho de Cracóvia, ressoarão as palavras que surpreenderam o mundo e que ainda são atuais: Não tenhais medo! Abri as portas a Cristo!
Seguindo os passos de São João Paulo II e de Santa Faustina Kowalska, que falam da Misericórdia de Deus, serão dias de propor aos jovens que abram as portas da alma, para descobrir a misericórdia. Na verdade, devemos evitar o risco de que misericórdia seja apenas uma palavra bonita, capaz de preencher discursos, frases redondas ou canções, mas sem tomar forma no nosso ser e nas nossas ações. Por isso, o Papa Francisco oferece muitas oportunidades (essa JMJ é um exemplo) de experimentá-la e torná-la vida.
A misericórdia de Deus é idêntica a Ele mesmo, por isso brota do seu mistério. Para conhecer o seu conteúdo, ela deve ser acolhida, e a melhor maneira, a estrada mais direta e alegre, passa pela confissão das nossas faltas no sacramento da Penitência. Deixar as nossas ofensas nas suas mãos permite-nos saber quanto o Criador nos ama. “Jesus Cristo está sempre à espera de que voltemos para Ele, precisamente porque conhece a nossa fraqueza”, dizia são Josemaria. Espero que muitos jovens voltem de Cracóvia com o olhar mais limpo e a alma mais alegre, depois de se colocarem nas mãos da graça divina, depois de sentirem o abraço deste Pai divino que sempre aguarda o nosso retorno. Não tenhamos medo, abramos as portas para a misericórdia de Deus! Esta atitude leva-nos de volta ao bem se o perdemos, e gera novos desejos de amor.
A misericórdia também se fortalece em nós pelo exercício. Tal é o seu poder, porque tem a capacidade de preencher uma vida, de transformar uma existência cinza na força poderosa, positiva e pacífica, de que a nossa sociedade precisa. O bom inconformismo caracteriza a alma jovem, como explica São Josemaria: “Quando era jovem fui rebelde e agora continuo a sê-lo. Porque não me dá na gana protestar por tudo sem dar uma solução positiva, não me dá na gana encher a vida de desordem. Sou rebelde contra tudo isso! Quero ser filho de Deus, tratar a Deus, portar-me como um homem que sabe que tem um destino eterno e, além disso, passar pela vida fazendo o bem que puder, compreendendo, desculpando, perdoando, convivendo…”
Estes dias na Polônia oferecem-nos numerosas ocasiões para nos exercitarmos na misericórdia, no espírito de serviço: a convivência com pessoas desconhecidas, tempos de espera, o calor, o frio, falta de sono ou outros desconfortos são oportunidades para tratar e ajudar os outros como Cristo faria. Tomara que com esta experiência, cada um volte para casa com um propósito, concreto e pessoal, que ajude a espalhar o poder da ternura de Deus em todos os cantos deste mundo.
Se fizermos destes dias uma escola de misericórdia, cada peregrino voltará à sua casa com uma mochila cheia de esperança, capaz de distribuir generosamente o tesouro inesgotável que mora numa alma que se deixou abraçar pelo Senhor.