Padre Paulo M. Ramalho
Ao pensar nesse tema me vêm à lembrança minhas aulas de história, quando aprendi que os espartanos criaram um poderoso exército com a alta formação disciplinar de seus soldados. Também me vem à lembrança o raio laser, uma luz cujas ondas são propagadas na “mesma frequência”. Graças a isso, com uma pequena potência, ele é capaz de perfurar paredes, cortar o aço, destruir objetos etc. E por que a luz normal não produz esse efeito? Porque suas ondas não estão disciplinadas, em harmonia.
Se compararmos o raio laser ao comportamento das pessoas, veremos como a disciplina pode transformar a vida de uma pessoa: pode torná-la tremendamente eficaz, pode multiplicar enormemente a sua capacidade de trabalho, pode levá-la a uma plenitude maior da vida permitindo realizar ações em determinados campos que antes não eram abrangidos: no campo familiar, no campo da amizade, social, cultural, espiritual etc.
Será que sou uma pessoa disciplinada? Dou conta de todas as minhas obrigações, sejam elas profissionais, familiares, espirituais, sociais, no campo da amizade, no cuidado da saúde etc.?
Quais são os inimigos da disciplina?
a) A preguiça. Não há dúvida de que a preguiça está na contramão da disciplina. A disciplina é sinônimo de força, de empenho, e a preguiça é sinônimo de fraqueza, de moleza. Tenho sabido combater a preguiça em todos os campos da minha vida? É natural que para determinados campos não teremos preguiça nenhuma e para outros teremos, quem sabe, uma enorme preguiça. Sei quais são estes campos e luto neles com afinco?
b) O gosto. Não há nada de mau em gostar das coisas. O problema está em não educar o gosto. Se não o educo, torno-me escravo dele: farei as coisas de que gosto e não farei, ou adiarei, as coisas de que não gosto. Adiarei, por exemplo, a ida à academia de ginástica, o telefonema para uma pessoa que me custa, a arrumação no meu armário etc.
c) Os adiamentos. Como vimos acima, é o resultado normal de quem se deixa levar pelo gosto e, naturalmente também, de quem se deixa levar pela preguiça. Costumo adiar meus compromissos? Amanhã, depois, são palavras que costumam aparecer no meu vocabulário. Neste sentido, é bom lembrar o que dizia um sacerdote santo, “O amanhã, o depois são os advérbios dos vencidos”.
Como se vê, não são pequenos os inimigos da disciplina. Daí ser raro encontrar uma pessoa extremamente disciplinada, que faz em cada momento o que deveria estar fazendo e dá conta de todas as suas obrigações. Para sermos pessoas mais disciplinadas, nada melhor do que, sem bitolamentos nem rigidezes, termos um plano de tarefas, um horário a ser seguido a cada dia.
Talvez, quando éramos mais jovens, já tenhamos feito esse horário. Mas eu diria que ter um horário é para todas as idades. Sem um horário por escrito, no qual encaixemos todas as nossas obrigações, é muito difícil cumpri-las. É muito difícil ter apenas na mente, e não num papel, todas as obrigações das quais devemos dar conta, e, estando apenas na mente, é muito mais fácil arranjar justificativas para não fazê-las. O fato de termos um horário num papel, no computador ou no celular, torna as obrigações patentes, sem perigos para a “malandragem”, para o “suborno da consciência”.
Esforcemo-nos, a cada dia, para ser mais disciplinados e ficaremos muito mais felizes, pois nos tornaremos senhores de nós mesmos, e nossa vida se encherá de eficácia.
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Pe. Paulo M. Ramalho – Sacerdote ordenado em 1993. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce; Capelão do IICS (Instituto Internacional de Ciências Sociais). Atende direção espiritual na Igreja de São Gabriel, em São Paulo.
