Em nosso Brasil os católicos ainda são a maioria da população. Infelizmente, até por motivos alheios a eles, só uma minoria conhece bem sua fé e procura viver conforme ela, apesar da conhecida religiosidade do povo brasileiro.
Tomemos como exemplo o primeiro mandamento. Todos sabem que só se deve adorar a Deus e que toda idolatria é condenável. Porém poucos aprenderam que o primeiro mandamento nos obriga a conhecer as verdades divinas – a Revelação – e aceitá-las. Além disso, temos a obrigação de, com frequência, praticar atos de fé e, sobretudo, procurar continuamente ter um diálogo amoroso com Deus. Em suma, ter vida de oração. No dia a dia, em todas as circunstâncias, em todos os lugares.
“Eu sou o Senhor teu Deus, não terás outros deuses diante de Mim”
Quando pensamos em um pecado contra o primeiro mandamento pensamos em idolatria. Recusando-se a adorar falsos deuses milhares e milhares de cristãos morreram na arena. Claro que a imensa maioria dos cristãos são pouco propensos a praticar um pecado de idolatria em sentido literal. Mas, infelizmente, podemos ofender a Deus de mil outras maneiras.
Muita gente não sabe mas a virtude da fé “é infundida em nossa alma, juntamente com a graça santificante, no momento do batismo”. Quando crescemos e ficamos conscientes de nossos atos temos que vitalizar essas virtudes com atos de fé. É o que fazemos “cada vez que assentimos conscientemente às verdades reveladas por Deus” . E assim, ao aceitar a Deus aceitamos também a palavra divina, e nosso ato de fé passa a ser um ato de culto a Deus. Entendemos assim porque é nosso dever amoroso “procurar e conhecer as verdades divinas e aceita-las”.
A verdadeira fé não admite que tenhamos vergonha de dar testemunho de Cristo. Em alguns casos, até com o risco de perder a própria vida.
Como somos homens e mulheres fracos podemos vir a perder esse precioso dom de Deus. Se abandonarmos e rejeitarmos conscientemente a Deus e a tudo que nos ensinou e legou apostatamos de nossa fé.
Também podemos rejeitar parcialmente as verdades reveladas. “É o pecado de heresia. Herege é um batizado que se recusa a crer numa ou mais verdades reveladas por Deus e proclamadas solenemente pela Igreja Católica. Uma verdade revelada por Deus e proclamada solenemente pela Igreja denomina-se dogma de fé”. Alguns dogmas foram definidos pela Igreja no seu começo quando alguns começaram a propagar ideias erradas a respeito de Cristo. Um dogma dessa época é o da Santíssima Trindade. Um dogma mais recente foi proclamado por Pio XII em 1950: o dogma da Imaculada Conceição, isto é, o fato de Deus ter criado a alma de Maria livre do pecado original.
Os dogmas se entrelaçam e formam a tapeçaria da fé católica. A Igreja nos diz que quem rejeita um, rejeita todos. Afinal, “se Deus que fala pela sua Igreja, pode errar num ponto de doutrina, não há razão nenhuma para crer nos demais”. É como os antigos cordões de lâmpadas de árvores de Natal. Se uma se apagava, todas se apagavam.
Um ponto muito importante sobre o ensino a respeito das heresias – como em qualquer pecado – é o que distingue o pecado material do pecado formal. Se alguém faz alguma coisa objetivamente errada, mas o ignora sem culpa própria, dizemos que cometeu um pecado material, mas não formal. Um exemplo simples seria alguém comer carne em dia de jejum e abstinência não se lembrando de que deveria se abster naquele dia. Foi uma distração. Ela infringiu a lei materialmente, mas não formalmente. Não tinha a intenção de desobedecer a um preceito. Nessa linha, posso aprovar uma heresia, defendendo, por exemplo, que o Deus que os muçulmanos adoram é o mesmo que adoramos. Não é verdade. Se penso tal coisa, por ignorância da doutrina, não sou formalmente culpado do pecado de heresia. Só expressei uma heresia.
Quando a Igreja entende que um batizado, mesmo membro da alta hierarquia eclesiástica, está defendendo ou propagando heresias, por palavras ou ações, ela o adverte explicando a doutrina verdadeira e pede que ele abjure suas concepções religiosas falsas. Se ele, de modo contumaz se nega a rever o que está fazendo, aí é considerado formalmente herético. Após isso ele deixa de pertencer à Igreja.
A crise da Igreja hoje ocorre, conforme vimos em diversas declarações de bispos e cardeais, incluindo o papa emérito Bento XVI, pela propagação de erros em matéria de fé e moral no seu interior. Erros praticados, e/ou acobertados afirmam eles, por eminentes membros da hierarquia.
Temos uma questão crucial diante de nós: o que fazer para impedir que o joio asfixie o trigo? – Orações? Reparações? Penitências? Sem dúvida. E é o principal. É a receita que foi sempre dada por todos os santos. Contudo, como ocorreu em épocas passadas, não poderá ocorrer sem ações efetivas para combater tantas heresias e afastar de seus cargos os hereges contumazes.
Tal como a Virgem aos pés da cruz peçamos a graça de nos unirmos cada vez mais a Deus e à Igreja, com fé e esperança inquebrantáveis.
Nota: Texto elaborado a partir de “A Fé explicada”, de Leo Trese, editora Quadrante, São Paulo. Seção os mandamentos. Partes entre aspas são cópias literais do texto.