MEDITAÇÃO DE D. JAVIER ECHEVARRÍA
Hoje é dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez por nós este Senhor nosso. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o Seu corpo destroçado.
Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçamo-nos para que guardem silêncio as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus. Mas sem estarmos meramente passivos; é uma graça que Deus nos concede quando lha pedimos diante do Corpo morto do Seu Filho, quando nos empenhamos em tirar da nossa vida tudo o que nos afaste d’Ele.
O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demônio e o pecado e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a Sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial; já somos filhos de Deus! É necessário que façamos propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de que superaremos todos os obstáculos, sejam do tipo que forem, se nos mantemos bem unidos a Jesus pela oração e os sacramentos.
O mundo tem fome de Deus, embora muitas vezes não o saiba. As pessoas desejam que se lhes fale desta realidade gozosa — o encontro com o Senhor — e para isso estão os cristãos. Tenhamos a valentia daqueles dois homens — Nicodemos e José de Arimateia — que durante a vida de Jesus Cristo mostravam respeitos humanos, mas que no momento definitivo se atrevem a pedir a Pilatos o corpo morto de Jesus, para lhe dar sepultura. Ou a daquelas mulheres santas que, quando Cristo é já um cadáver, compram aromas e vão embalsamá-lo, sem terem medo dos soldados que guardam o sepulcro.
À hora da debandada geral, quando toda a gente se sentiu com direito a insultar, a rir-se e a zombar de Jesus, eles vão dizer: dá-nos esse Corpo, que nos pertence. Com que cuidado o desceriam da Cruz e iriam olhando para as Suas Chagas! Peçamos perdão e digamos, com palavras de São Josemaría Escrivá: subirei com eles ao pé da Cruz, apertarei o Corpo frio, cadáver de Cristo, com o fogo do meu amor…, retirar-lhe-ei os cravos com os meus desagravos e mortificações…, envolvê-Lo-ei com o pano novo da minha vida limpa e enterrá-Lo-ei no meu peito de rocha viva, donde ninguém m’O poderá arrancar, e aí, Senhor, descansai!
Compreende-se que colocassem o corpo morto do Filho nos braços da Mãe, antes de lhe dar sepultura. Maria era a única criatura capaz de Lhe dizer que entende perfeitamente o Seu Amor pelos homens, pois não foi Ela a causa dessas dores. A Virgem Puríssima fala por nós; mas fala para nos fazer reagir, para que experimentemos a Sua dor, feita uma só coisa com a dor de Cristo.
Retiremos propósitos de conversão e de apostolado, de nos identificarmos mais com Cristo, de estar totalmente pendentes das almas. Peçamos ao Senhor que nos transmita a eficácia salvadora da Sua Paixão e Morte. Consideremos o panorama que se nos apresenta pela frente. As pessoas que nos rodeiam, esperam que os cristãos lhes descubram as maravilhas do encontro com Deus. É necessário que esta Semana Santa — e depois todos os dias — sejam para nós um salto de qualidade, pedir ao Senhor que se meta totalmente nas nossas vidas. É preciso transmitir a muitas pessoas a Vida nova que Jesus Cristo nos conseguiu com a Redenção.
Socorramo-nos de Santa Maria: Virgem da Soledade, Mãe de Deus e Mãe nossa, ajuda-nos a compreender — como escreve São Josemaría — que é preciso fazer da nossa vida a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir então os passos de Cristo, com afã de corredimir todas as almas. Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus Cristo e nos fazemos uma só coisa com Ele.
(Fonte: site do Opus Dei / Portugal em http://www.opusdei.pt/art.php?p=33158)