PRA QUE TANTA NOTÍCIA?

Valter de Oliveira

Sou professor de história. Tenho dois sites e dois blogs: dois sobre o mundo espiritual, que trata da vida e da doutrina da Igreja Católica, e dois sobre o mundo temporal, com ênfase na área de humanas. Comecei na mídia em 2008. Já faz um bom tempo. Considero um trabalho histórico-jornalístico. Em todo esse tempo, ao escrever em qualquer um deles, ou ao postar artigos de terceiros, procurei levar em conta a responsabilidade e os deveres ético-profissionais tanto de jornalistas quanto de historiadores; sempre na procura da verdade possível associada ao desejo do bem e ao encanto do belo. Porém, como vocês sabem, não é fácil conhecer a história. Na verdade, é árduo até para historiadores que, conhecem melhor apenas aquilo que optaram por ter como objeto de estudo. Mais difícil ainda é conhecer a “história presente”, que está ocorrendo em nossas vidas, em nosso dia a dia. Só isso basta para compreendermos como é necessária a liberdade de conhecermos vários autores com sua diferentes fontes e interpretações. Elas podem nos ajudar a ter uma visão mais abrangente, mais próxima da realidade.

Basta isso?

Não. Tanto o historiador quanto o jornalista, para serem o quanto possível objetivos em suas análises, têm que se apoiar em uma correta visão do homem.  Uma visão antropológica errada leva a erros e desvarios. Como já disse a vocês, ao procurar ver a realidade humana, de ontem e de hoje, adoto uma visão de mundo que tem como base o direito natural, a ética realista e a Doutrina Social da Igreja. Esse é o modo que julgo ser o mais correto. Outros usam critérios diferentes. Também eles buscam chegar à verdade. Daí minha admiração e respeito por autores como Marc Bloch, Lucien Febvre, Jacques Le Goff, Huizinga e tantos outros com notável seriedade e erudição. A beleza da diversidade acadêmica nos leva a perceber que, mesmo em visões de mundo diferentes, quando a busca pela verdade é o farol dos estudos, podemos obter resultados extraordinários graças aos esforços e talentos de cada um.

Aqui vem uma pergunta: além dos historiadores a quem interessa conhecer a história e o homem? Ou mais especificamente: artigos sob minha perspectiva podem ser úteis a quem?

Escrevo para todos porque todo homem nasceu para compreender a realidade e deve procurar se aperfeiçoar para atingir seu fim último, que é Deus. Todo homem é capaz de admirar toda a beleza do Universo e a grandeza da vida humana. Todo homem também, deve passar da admiração para a ação, sabendo que é um ser social e que também nasceu para melhorar a sociedade na qual vive. Enfim, escrevo para pessoas como vocês que se interessam em entender melhor tudo aquilo que afeta o homem e a sociedade.

É uma bela tarefa que todos temos pela frente. 

Minha dívida com meus leitores

Sempre faço uma lista do que acho útil escrever ou publicar. Há temas que não dependem do tempo para serem discutidos. Hoje, amanhã, daqui a dois séculos sempre será importante se discutir sobre o fim último do homem; se Deus existe ou se somos apenas uma forma aperfeiçoada de matéria. Há outros temas, contudo, que se não forem discutidos aqui e agora, perdem atualidade, ninguém mais se interessa por eles.

Tudo se deve levar em conta ao pensar em algo para o site.

No ano passado comecei alguns temas que não pude terminar. Por exemplo: a série de artigos sobre a “Dignitas Infinita”, documento promulgado pelo Dicastério da Doutrina da Fé, do Vaticano, tão elogiado pelo Papa Francisco, mas recebido de diversos modos pelas correntes teológicas dentro da Igreja. Você pode encontrá-los no claravalcister.com

Também nele não terminei de explicar as correntes teológicas dentro da Igreja. Faltou falar do progressismo.

Vou cumprir o prometido o quanto antes.

Quero também postar outros artigos sobre temas que julgo importantes. Quais?

Enumero alguns.

1. A Guerra. Problema concreto: o que pode ou não ser permitido em uma guerra? Tanto a Igreja quanto as leis internacionais tratam do assunto. A igreja sempre colocou regras para que a guerra possa ser tida como legítima defesa de um País ou povo. Hoje, como crescem as barbáries cometidas o Papa Francisco diz que é o caso de se discutir se o que sempre foi ensinado sobre a liceidade da guerra justa continua válido. Neste caso o mais importante é a questão moral. Porém, como afeta a vida concreta das nações, l julgo mais conveniente postár o tema no olivereduc.com

2. A questão das migrações. Assunto que também tem causado fortes discussões políticas e eleitorais. Na grande mídia, e até em certos ambientes da Igreja, há muitos erros sobre o assunto, ou, se quiserem, apresentações reducionistas que deixam de lado pontos importantes da doutrina católica. Para tratar do assunto procurei artigos da Doutrina Social da Igreja que elucidem melhor a questão, não só nos aspectos teóricos, mas também nos específicos. Encontrei um que achei ótimo. É um pouco longo e terei que resumir. Ia começar a publicá-lo quando o Papa Francisco enviou sua carta aos bispos dos EUA em defesa dos migrantes e contra as deportações ordenadas por Trump. Lá, houve forte reação pró e contra a Carta. Um começo da polêmica já está no claravalcister de 15 de fevereiro p.p. (1)

3. As relações entre a Igreja e os Estados; os direitos dos cidadãos face ao Estado; os direitos dos fiéis na Igreja e os direitos dos governantes. Aqui surgem muitas questões: até que ponto, por exemplo, um cidadão é obrigado a seguir certas leis de seu país? São sempre válidas? Ele pode rejeitá-las e criticá-las publicamente, arcando com as consequências?  Se o Estado é laico a Igreja tem o direito de denunciar más leis e más práticas governamentais? Até que ponto?  Uma carta como a do Papa Francisco aos bispos dos EUA obriga os católicos, em consciência, a segui-la? Na mídia católica a discussão tem sido grande.

4. Progressismo x Conservadorismo Os progressistas têm afirmado, através de seus teólogos e historiadores, que a Igreja muda. Mesmo substancialmente. Eles saúdam as mudanças na Igreja propostas por eles, que são graduais e constantes, mas gostariam de vê-las aceleradas e efetivadas. Afinal, eles acreditam que elas seriam a interpretação mais correta da letra e do espírito do Concílio Vaticano II. Por outro lado, lamentam quando tais mudanças enfrentam obstáculos ou recuos. Mais ousadamente afirmam que a resistência ao que se julga ser o objetivo das reformas propostas pelo papa são inspiradas em uma falsa visão do Evangelho e estão ligadas a um conservadorismo asfixiante. Conservadorismo retrógrado que não percebe – ou não quer ver – que o próprio pontífice afirma que tais mudanças são necessárias, e virão mais cedo ou mais tarde. Simplesmente porque seriam mais evangélicas, mais acolhedoras, mais misericordiosas e conformes a um verdadeiro conceito de Igreja. Os artigos nos quais claramente defendem isso são inúmeros. O que pensar sobre isso? É sempre importante ver, com cuidado, os dois lados da história.

5. Correntes na Igreja. Narrativas ou realidade?

    Há quem objete que a divisão da Igreja entre progressistas e conservadores, ao lado de correntes menores, é fruto de uma visão naturalista, que transpõe para o terreno da Igreja os vícios da política temporal. Acrescentam ainda que isso é defendido por gente que não leva em conta que a hierarquia católica é formada em sua maioria por pessoas boas, que se importam não só com os fiéis, mas também com o bem de toda a sociedade. Finalmente, consideram que aqueles que teriam tal visão humana da Igreja é própria de quem não é capaz de ver a ação do Espirito Santo na Igreja (2.) 

    Tal afirmação é um equívoco. É, pelo menos, parcial e, se me permitem, um tanto romântica. Mostra desconhecimento da história da Igreja e de como nela atua o Espírito Santo. Prova disso são as frequentes críticas do papa Franciso a diferentes correntes dentro da Igreja. Críticas, às vezes, bem específicas.  (3) Em outras a crítica é feita aos que, dentro da Igreja, seguem ideias e princípios que ele julga inaceitáveis. Foi o que aconteceu aqui no Brasil, por ocasião da JMJ, quando em reunião com os cardeais do CELAM disse que a Igreja Latino-americana e do Caribe enfrentava várias tentações no seu trabalho missionário”. (4).

    Outra prova de que há sérias divisões reais na Igreja vem da Companhia de Jesus. A mídia jesuíta progressista, nos EUA, no Brasil e em outros lugares, tem publicado inúmeros artigos apontando a atuação das várias correntes da Igreja.

    Um exemplo é um artigo deste mês, na revista gaúcha da IHU Unisinos, que trata do futuro conclave. O título é impactante: “A saúde do papa obriga uma igreja dividida a considerar uma substituição mais incerta do que nunca”. Artigo que também estamos publicando no claravalcister.com desta semana.

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    Mais temas? Mais questões? Sem dúvida. Também importantes. Esperamos tratar delas em próximos artigos.

    Notas e fontes

    1. Link dos artigos de 15 de fevereiro https://www.claravalcister.com/papa-francisco-2/carta-do-papa-francisco-aos-bispos-dos-eua-sobre-a-questao-da-imigracao-e-deportacoes-em-massa/ https://www.claravalcister.com/igreja/o-que-e-o-ordo-amoris/

    2. O destaque em negrito é do claravalcister.

    3. É o caso dos católicos conservadores americanos e dos tradicionalistas.

    4. Veja artigo no claravalscister:    https://www.claravalcister.com/?s=Papa+Francisco+e+as+tenta%C3%A7%C3%B5es+na+igreja   

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