UM CONVITE DE NOSSA SENHORA

Conversão, dor, união com Cristo

Valter de Oliveira

Hoje a Igreja celebra a festa de Nossa Senhora de Lourdes. Foi neste local que a Virgem apareceu a uma pobre menina chamada Bernadette Soubirous.  A primeira vez foi em 11 de fevereiro de 1958. Depois de algum tempo, na nona aparição da Virgem na gruta de Massabielle, Bernadette recebeu a ordem de escavar o chão. Surge uma fonte de água. A partir daquele momento, até nossos dias, aquela água – convite aos fiéis para renovarem suas promessas de batismo e sinal da veracidade das aparições – fará muitos milagres físicos acontecerem, milagres que irão ser reconhecidos pela ciência. Desde então “ocorreram  em Lourdes muitos prodígios nos corpos e muitos mais nas almas. Foram incontáveis as curas, e muitos mais os que regressaram curados das diferentes doenças de que a alma pode sofrer: recuperaram a fé, abriram-se a uma piedade mais profunda e enérgica ou passaram a aceitar amorosamente a vontade divina”.

Bernadette Soubirous

“Ao meditarmos na festa de hoje, vemos como o Senhor quis colocar nas mãos de Maria todas as verdadeiras riquezas que nós, os homens, devemos implorar, e como nos deixou nEla o consolo de que estamos tão necessitados”

A Virgem mostra-se sempre como Saúde dos enfermos e Consoladora dos aflitos. Ao fazermos hoje a nossa oração, expomos-lhe todas as nossas necessidades, que são muitas. Ela conhece-as bem, escuta-nos sem termos de sair do lugar em que nos encontramos e quer que recorramos à sua proteção”.

O valor redentor da dor

A Santa Virgem diz Francisco Fernández Carvajal, “quis recordar naquela gruta a necessidade” que todos nós temos, da conversão e da penitência. Nossa Mãe quis pôr em relevo qual é o valor redentor da dor, do sofrimento e da mortificação voluntária

É doutrina católica que a dor, o sofrimento, bem entendidos, aceitos, fazem-nos participantes da Redenção, unem-nos a Cristo. Nós, contudo, tão presos à terra, temos muita dificuldade de entender isso. Temos da dor uma visão superficial, meramente humana, que não ligamos ao trancendente.

A saúde, a vida, são bens dados por Deus. Temos a obrigação de cuidar delas. Bem verdade. Mas, é certo também, que aquilo que o mundo considera um grande mal “pode ser, com olhos de bons cristãos, um grande bem: a doença, a pobreza, a dor, o fracasso, a difamação, a perda do emprego…”

Cada um de nós, em grau maior ou menor, em certos momentos da vida, teve que carregar cruzes inesperadas e que podem ter sido muito pesadas: mortes na família, doenças mais ou menos assustadoras, isolamento, incompreensões profundas, ingratidões inesperadas, até mesmo autênticas traições.

As cruzes podem ser um caminho para Deus

Cirineu carrega a cruz junto a Jesus

 “Em momentos humanamente muito difíceis, podemos descobrir, com a ajuda da graça, que essas situações de desamparo são um grande caminho para uma sincera humildade, abrindo-nos os olhos para a absoluta dependência de Deus em que o homem se encontra. A doença, ou qualquer desgraça, pode ajudar-nos muito a desapegar-nos um pouco mais das coisas da terra, a que talvez estejamos demasiado presos, quase sem o percebermos. Sentimos então a necessidade de olhar para o Céu e de fortalecer a esperança sobrenatural, ao verificarmos a fragilidade das esperanças humanas”.

Em minha vida tive que me deparar com isso algumas vezes. Nunca tive grandes cruzes. Alguns problemas financeiros, alguma situações inesperadas, e até mesmo decepções muito profundas na vida religiosa aconteceram. Na família, em que pese a felicidade de um grande casamento, também surgiram coisas preocupantes. Não posso esquecer os momentos em que pensei que pudesse perder para a morte alguns de meus filhos, ou minha esposa. Felizmente, nosso bom Deus cuidou de todos.

Entre as tristezas tive exemplos de amigos que tiveram doenças graves e faleceram. Um com esclerose múltipla, com quem muito conversei, foi difícil vê-lo perdendo os movimentos pouco a pouco. Suportou tudo bravamente até o fim. Um outro, que conhecera quando éramos jovens, em Caxias do Sul, teve um câncer doloroso mais recentemente. Através de outro amigo, também agora com sua cruz, voltei a ter contato com ele após quase 50 anos. Conversamos por volta de um ano. Enfrentou bem a cruz ofereceu sua dor pela Igreja e pelas almas, uniu-se mais a Nossa Senhora, morreu em paz. Já no ano passado voltei a ver um antigo amigo de apostolado que não via há décadas.  Uma noite, na Igreja do Imaculado Coração de Maria, em Higienópolis, conversamos brevemente e combinamos de nos comunicarmos para marcarmos uma conversa mais longa. Infelizmente não deu tempo. Ele faleceu alguns dias depois.

São só alguns exemplos, todos ocorridos com pessoas que dedicaram sua vida ao apostolado católico. De consolo, além das lembranças de um doce convívio quando jovens, a certeza de que entregaram suas almas em paz. Como outros que também conheci mas que não consegui me reaproximar mais tarde. Peço a Deus que os encontre na Jerusalém Celeste.

O sofrimento como prova de amor

Encerro  com mais um trecho da meditação de Carvajal

“A doença ajuda-nos a confiar mais em Deus, que nunca nos prova acima das nossas forças, e a abandonar-nos plenamente nos seus braços fortes de pai. Deus conhece bem as nossas forças e nunca nos pedirá mais do que aquilo que podemos dar. Qualquer infelicidade é uma boa ocasião para pormos em prática o conselho de Santo Agostinho: fazer o que se pode e pedir o que não se pode, pois o Senhor não manda coisas impossíveis.

Santa Bernadette Soubirous

“A grande prova de amor que podemos dar é aceitar a doença – e a própria morte – entregando a vida como oblação e sacrifício por Cristo, para o bem de todo o seu Corpo Místico, a Igreja. As nossas penas e dores perdem a sua carga de amargura quando se elevam ao Céu. Poenae sunt pennae, “as penas são asas”, diz uma antiga expressão latina. Uma doença pode converter-se em asas que nos elevam até Deus. Como é diferente uma doença que acolhemos com fé e humildade de uma outra que, pelo contrário, recebemos com pouca fé, mal-humorados, magoados ou tristes!”

Que o bom Deus ajude a todos nós a entendermos tanta sublimidade.

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Fonte:

Falar com Deus. Francisco Fernández Carvajal. Meditação de 11 de fevereiro de 2025.  https://www.hablarcondios.org/pt/meditacaodiaria.aspx#google_vignette

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