Introdução: a crise na Igreja e no Mundo.
Há muita gente boa que está indignada com os males que encontra no mundo moderno. Mais ainda quando o mal está diante de nós, aqui mesmo, no Brasil. Tanto na vida política quando na vida social.
Também há muitos que assistem perplexos o que acontece na vida interna da Igreja. Apontam, por exemplo, as heresias propostas pelo chamado “Caminho Sinodal Alemão”. Para piorar nesta semana, leram, estarrecidos, que 300 frades franciscanos alemães escolheram como superior um frade declaradamente homossexual (1).
Diante da constatação desses fatos temos aqueles que, apesar de tudo, continuam acreditando na indefectibilidade da Igreja e acreditam que Deus saberá tirar o bem do mal. Por outro lado percebe-se que há também quem se abale, quem perca o ânimo. Alguns, infelizmente, perdem também a fé.
Outra queixa que percebemos é quanto à atuação dos bispos, especialmente os silenciosos. É sempre a mesma pergunta: -“E a hierarquia O que farão os bispos?” (2).
Ouvi, certa vez, que a alma humana é feita de luz e sombras. É verdade. Pela luz podemos ver a verdade. As sombras podem fazer com que deixemos de ver o caminho que devemos seguir. Tudo vai depender de nossa resposta às graças que Deus nos dá.
O mesmo acontece na história da Igreja. Nela também há luz e sombras.
Agimos mal quando nos fixamos nas sombras. Deixamos de ver que há milhões de pessoas no bom caminho, sendo fiéis a Deus. Não percebemos que no meio de tantos males há almas ávidas de santidade. Almas que oram, que lutam, que se sacrificam.
Aqui está o ponto que devemos enfatizar: todos nós, sem exceção, devemos procurar nos santificar. Não amanhã. Não em um futuro hipotético. Santificação hoje, agora, no meio do mundo no qual estamos.
Lembro-me de um ou outro amigo que já me perguntou: -“Em qual época você gostaria de ter nascido? ”
Minha resposta foi sempre simples: -“Nesta. E neste país. Foi onde Deus me criou. Ele sabe o que é melhor para mim”.
Neste sentido não somos diferentes de todos os que nos precederam. Todos, sem exceção, ricos ou pobres, nobres ou plebeus, homens ou mulheres nasceram quando e onde Deus decidiu colocá-los. Uns no antigo povo judeu; ou na antiguidade romana onde tantos foram mártires. Outros viveram no apogeu da Idade Média, na era dos descobrimentos, na Revolução Francesa ou em um shogunato no Japão…Foi ali que Deus os quis. Foi ali que deu a cada um as graças necessárias para conhece-Lo e amá-Lo.
A nós hoje cabe lembrar o que nos é ensinado pela Revelação. Ensinamento muito bem descrito na meditação de hoje de “Falar com Deus”:
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“ TODA A SAGRADA ESCRITURA é uma chamada à santidade, à plenitude da caridade, mas Jesus nos diz hoje explicitamente no Evangelho da Missa: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito1. E Cristo não se dirige aos Apóstolos ou a uns poucos, mas a todos. São Mateus faz-nos notar que, ao terminar este discurso, as multidões admiravam-se da sua doutrina2. Jesus não pede a santidade unicamente ao grupo reduzido de discípulos que o acompanham por toda a parte, mas a todos os que se aproximam dEle, às multidões, entre as quais havia trabalhadores do campo e artesãos, que se deteriam para ouvi-lo ao voltarem do trabalho, mães de família, crianças, publicanos, mendigos, doentes…
A cada um de nós em particular, aos nossos vizinhos, aos colegas de trabalho ou de Faculdade, a essas pessoas que caminham pela rua…, Cristo nos diz: Sede perfeitos…, e nos dá as graças convenientes para isso. Não é um conselho do Mestre, mas um preceito. “Todos na Igreja, tanto os que pertencem à hierarquia como os que são apascentados por ela, estão chamados à santidade, conforme o que diz o Apóstolo: Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação (1 Tess 4, 3)”3. “Todos os fiéis, de qualquer estado ou condição, estão chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”4. Não existe na doutrina de Cristo uma chamada à mediocridade, mas ao heroísmo, ao amor, ao sacrifício alegre”.
É isso amigos. Todos estamos chamados à santidade. Simplesmente porque a santidade é o ápice do amor.
“O amor está ao alcance da criança, do doente que jaz há meses no leito de um hospital, do empresário, do trabalhador braçal, do médico que não tem um minuto livre…, porque a santidade é questão de amor, de empenho por chegar, com a ajuda da graça, até o Mestre. Trata-se de dar um novo sentido à vida. A santidade implica exigência, combate ao comodismo, à tibieza, ao aburguesamento, e pede que sejamos heroicos, não apenas em situações extraordinárias, que poucos iremos encontrar, mas na contínua fidelidade aos deveres de todos os dias.
A liturgia relembra hoje umas palavras de São Cipriano que exortam assim os cristãos do século III: “Irmãos muito amados, devemos recordar e saber que, já que chamamos Pai a Deus, temos que comportar-nos como filhos, a fim de que Ele se compraza em nós […]. Seja a nossa conduta tal qual convém à nossa condição de templos de Deus […]. E como Ele disse: Sede santos porque eu sou santo, pedimos e rogamos que nós, que fomos santificados no batismo, perseveremos nessa santificação inicial. E pedimo-lo cada dia”5. É o que fazemos agora nestes minutos de oração: Concedei-nos, Senhor, um vivo desejo de santidade, que sejamos exemplares nos nossos afazeres, que Vos amemos cada dia mais.
O texto de Carvajal ajuda-nos a entender a prática da santidade no meio da crise atual, e em qualquer época. A santidade não ocorre sem luta e sofrimento. Luta e sofrimento que irão nos dar paz de alma. Seja diante dos males do mundo seja nas misérias que vemos dentro da Santa Igreja. E em nós mesmos!
II. O SENHOR NÃO SE CONTENTA com uma vida interior tíbia e com uma entrega pela metade. E a todo aquele que der fruto, Ele o podará para que dê mais fruto6. É por isso que o Mestre purifica os seus, permitindo provas e contradições. “Se o ourives martela repetidamente o ouro, é para tirar dele a escória; se passa a lima uma e outra vez pelo metal, é para aumentar o seu brilho. O forno prova o vasilhame do oleiro, o homem prova-se na tribulação”7. Toda a dor – física ou moral – que Deus permite, serve para purificar a alma e para que dê mais fruto. Devemos vê-la sempre assim, como uma graça do Céu.
Todas as épocas são boas para entrar por caminhos profundos de santidade, todas as circunstâncias são oportunas para amar mais a Deus, porque a vida interior se alimenta, com a ajuda do Espírito Santo, de tudo o que acontece à nossa volta, à semelhança do que se passa com as plantas. Elas não escolhem o lugar nem o meio, mas é o semeador que deixa cair as sementes neste ou naquele terreno, e ali se desenvolvem, convertendo em substância própria, com a ajuda da água que vem do céu, os elementos úteis que encontram na terra. Assim deitam raízes e se desenvolvem.
Com muito maior razão devemos nós crescer na vida cristã, pois foi o nosso Pai-Deus quem escolheu o terreno e nos concede as graças para que demos fruto. A terra em que o Senhor nos colocou é a família de que fazemos parte e não outra, com as virtudes, os defeitos e o modo de ser das pessoas que a integram. A terra em que devemos crescer e desenvolver-nos é o trabalho, que temos de amar para que nos santifique; são os colegas de profissão, os vizinhos… A terra em que devemos dar frutos de santidade é o país, a região, o sistema social ou político vigente, a nossa própria maneira de ser… e não outra. É aí, nesse ambiente no meio do mundo, que o Senhor nos diz que podemos e devemos viver todas as virtudes cristãs, com todas as suas exigências, sem reduzi-las. Deus chama-nos à santidade em todas as circunstâncias: na guerra e na paz, na doença e na saúde, quando parece que triunfamos e quando chocamos com o fracasso inesperado, quando temos muito tempo livre e quando andamos com a língua de fora de tanto correr de uma coisa para outra. O Senhor nos quer santos em todos os momentos. Mas os que não contam com a graça e encaram as coisas com uma visão puramente humana, estão dizendo constantemente: este tempo de agora não é tempo de santidade.
Não pensemos que em outro lugar e em outra situação seguiríamos a Deus mais de perto e desenvolveríamos um apostolado mais fecundo. Deixemos de lado a mística do oxalá. Os frutos de santidade que o Senhor espera de nós são os que a terra em que estamos plantados produz aqui e agora: cansaço, doença, família, trabalho, colegas de trabalho ou de estudo. “Portanto, deixem-se de sonhos, de falsos idealismos, de fantasias, disso que costumo chamar mística do oxalá: oxalá não me tivesse casado, oxalá não tivesse esta profissão, oxalá tivesse mais saúde, oxalá fosse jovem, oxalá fosse velho…; e atenham-se, pelo contrário, sobriamente à realidade mais material e imediata, que é onde o Senhor está”8. Esse é o ambiente em que deve crescer e desenvolver-se o nosso amor a Deus, servindo-se precisamente dessas oportunidades. Não as deixemos passar; Jesus espera-nos aí.
Um pedido final
Peçamos à Santíssima Virgem um desejo de santidade efetivo nas circunstâncias em que nos encontramos agora. Não esperemos por um tempo mais oportuno; este é o momento propício para amarmos a Deus com todo o nosso coração, com todo o nosso ser…
Notas:
- https://www.acidigital.com/noticias/franciscanos-alemaes-elegem-padre-que-se-declara-homossexual-como-superior-81643
- É preciso lembrar sempre nosso importante papel na vida da Igreja e entender realmente a comunhão dos santos. O episódio de Abraão, narrado no Gênesis, é significativo: Deus não castigaria o povo se houvesse certo número de justos” No final de diálogo lemos: “Prosseguiu Abraaão? “Agora que já fui ousado falando ao Senhor pergunto: E se apenas dez forem encontrados? Ele respondeu: “Por amor aos dez não a destruirei” (Gênesis, 18: 32).
E hoje, quantos serão necessários para que Deus impeça a vitória dos maus? Depende de nós a resposta. Não pensemos que só os outros – ainda que na hierarquia – sejam os responsáveis.
Os destaques em negrito no excerto da meditação são do site claravalcister.
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Notas do texto de Carvajal:
1.Mt 5, 48; (2) cfr. Mt 7, 28; (3) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 39; (4) ib., 40; (5) Liturgia das Horas, Segunda leitura da terça-feira da décima primeira semana do Tempo Comum; (6) Jo 15, 2; (7) São Pedro Damião, Cartas, 8, 6; (8) Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, n. 116; (9) 2 Tim 2, 6; (10) Ti 5, 7-8.
Fonte: Falar com Deus, Francisco Fernández Carvajal, Meditação de 14 de junho, Santidade no Mundo.