Um novo volume de “Cartas” de São Josemaria acaba de ser publicado: o segundo, pouco mais de um ano após o aparecimento do primeiro, que foi publicado no outono de 2020.
26/02/2022
Isto eleva a dez o número de volumes já publicados da coleção de obras completas de São Josemaria. A coleção, um projeto do Istituto Storico San Josemaria Escrivá, com sede em Roma, está sendo publicada pela Editora Rialp.
Luis Cano, editor deste segundo tomo de cartas e de outros volumes da coleção, é secretário do Istituto Storico San Josemaria Escrivá (Itália) e membro da comissão que coordena a coleção de obras completas. Nesta entrevista, responde a algumas perguntas sobre o novo livro.
Qual a extensão destas cartas e por que elas são relevantes?
Em conjunto, as quatro Cartas ocupam 168 páginas na edição crítica: são um pouco mais breves que as do volume anterior; a mais curta é de 27 páginas e a mais longa é de 54. Em minha opinião, o seu maior interesse reside no fato de que contêm a visão madura e, por assim dizer, acabada do carisma que São Josemaria recebeu em 1928.
São, portanto, escritos de grande valor para conhecer esse carisma e sua proposta eclesial específica. Mas penso que a leitura também pode ser interessante para pessoas que não estão familiarizadas com o Opus Dei, pois abordam temas que podem nos ajudar a seguir Jesus Cristo no mundo de hoje, seguindo caminhos muito diferentes.
Quais são os temas de cada uma delas?
Dois textos são dedicados a um tema de grande importância e atualidade: os jovens. A primeira — a carta número 5 desta edição — concentra-se na educação cristã dos jovens. Acho que qualquer pessoa que trabalhe no mundo da educação encontrará páginas inspiradoras. Estabelece como ideais desta tarefa “ordenar toda cultura para a salvação, iluminar com fé todo o conhecimento humano, formar cristãos cheios de otimismo e de impulso capazes de viver no mundo a sua aventura divina” (Carta nº 5, 6).
A Carta nº 7, por outro lado, aborda as principais linhas do apostolado do Opus Dei com os jovens: ajudá-los a formar a sua personalidade e a serem livres, dando-lhes um bom conhecimento da doutrina cristã e encorajando-os a ter uma atitude de serviço na vida, tanto a Deus como aos outros, e acima de tudo a ter intimidade com Cristo. Penso que o conteúdo desta Carta poderia ser resumido na seguinte exortação: “Fazei com que, na sua primeira juventude ou em plena adolescência, se sintam sacudidos por um ideal: que procurem Cristo, que encontrem Cristo, que tenham trato com Cristo, que sigam Cristo, que amem a Cristo, que permaneçam com Cristo” (Carta nº 7, § 12).
A Carta nº 6 é como um resumo de todo o carisma do Opus Dei. Portanto, trata de muitos temas. Em minha opinião, uma das chaves que oferece é que este espírito, este dom específico que Deus deu a sua Igreja, leva a algo que parece incompatível: ter um grande amor ao mundo e, ao mesmo tempo, inseparavelmente, buscar um relacionamento intenso com Deus. Como diz, trata-se de viver “participando de todas as tarefas, de todas as atividades nobres dos homens”, cultivando uma “simples contemplação filial, em constante diálogo com Deus” (Carta nº 6, §§ 9 e 15), para assim “colocar todas as coisas aos pés do Senhor, levantado na cruz” (Carta nº 6, § 12).
Outra chave é que no Opus Dei existe uma “união íntima e total entre o trabalho profissional e o trabalho apostólico” (Carta nº 6, § 42). Neste campo, a sua missão é “recolher com juventude o tesouro do Evangelho, para levá-lo a todos os cantos da terra” (Carta nº 6, § 31).
A última carta do volume é a nº 8. Nela explica a vida cristã como serviço, em um exercício consciente de liberdade. Em outras palavras, tenta iluminar o aparente paradoxo de somos livres quando decidimos servir: “a legítima liberdade dos homens”, assim começa esta carta, “se são verdadeiramente honestos, com a ajuda divina, leva-os ao desejo de servir a Deus e às suas criaturas” (Carta No. 8, § 1).
Há alguma razão pela qual São Josemaria preferiu expor o espírito do Opus Dei através de cartas aos membros em vez de, por exemplo, através de um tratado ou de um ensaio descritivo?
Sim, ele queria que estes escritos fossem conversas cheias de confiança, nas quais o fundador fala muito livremente com os leitores, contando acontecimentos da sua vida, oferecendo reflexões, levando-os a participar das luzes que ele mesmo tinha recebido em seu relacionamento com Deus. Às vezes o seu bom humor ou a sua personalidade vigorosa vem à tona, por exemplo, quando critica o clericalismo; e também tem frases que tocam o coração e nos movem a saber que somos amados por Deus.
Como fundador, Josemaria Escrivá é uma testemunha do Evangelho, uma pessoa apaixonada por Jesus, que usa uma linguagem compreensível e compartilha o que ele já experimentou.
A coleção de suas obras completas começou a ser publicada há cerca de vinte anos. Quantos volumes e quantos anos, aproximadamente, faltam para sua conclusão?
Não saberia dizer, mas muitos. Só das Cartas, existem talvez outros dez volumes. Depois há muitos outros escritos, como seu epistolário, ou fragmentos de sua pregação, mais ou menos completos, que incluem milhares de páginas. Estamos trabalhando intensamente, mas há trabalho suficiente para trinta ou quarenta anos, na minha opinião.
Ediciones Rialp. Cartas II (Edición crítico-histórica)