A apresentação do livro – no qual aparece como coautor – provocou reação contra Bento XVI. A questão é que, ao que parece, o Papa Emérito deu, pelo menos, prévia e tácita aprovação a todo o texto.
CIDADE DO VATICANO. A controvérsia a respeito do livro sobre o sacerdócio e o celibato clerical, com partes escritas por um e outro, produziu muito calor, e pouca luz.
O que sabemos sobre os fatos até agora? Vamos tentar dar uma ideia a partir de declarações do Cardeal Sarah em 14 de janeiro p.p no qual ele relata sua troca de mensagens com o pontífice emérito:
- Em 5 de setembro, após visitar Bento XVI em sua residência (mater Ecclesiae) pedi ao Papa Emérito pedindo-lhe que escrevesse um texto sobre o sacerdócio e, em especial, sobre o celibato.
- Não esperava que Bento concordasse por causa da “polêmica” que tais reflexões poderiam causar na mídia”, mas eu estava “convencido que toda a Igreja precisava deste presente” e que poderia ser publicado por ocasião do Natal.
- Dia 20 de setembro Bento respondeu dizendo que, na verdade, tinha começado a escrever um texto sobre o assunto e a carta do Cardeal Sarah o havia encorajado a terminar a tarefa.
- 12 de outubro: Bento entregou-lhe “um longo texto” que o cardeal julgou muito profundo e longo para um jornal. Assim “propôs ao papa a publicação de um livro contendo seu texto bem como o meu”.
- Após “várias trocas de mensagens para desenvolver o livro” ele enviou a Bento um manuscrito completo “como tínhamos decidido em conjunto” com a capa, introdução, conclusão, o texto de Bento XVI e o meu”
- Em 25 de novembro o Papa Emérito expressou sua “grande satisfação no que tange às seções preparadas em conjunto” e escreveu uma frase chave: “De minha parte o texto pode ser publicado no modo como você tinha planejado”.
- Dia 3 de Dezembro visitei Bento para explicar que “nosso livro” seria impresso durante os feriados de natal e colocado à venda em 15 de janeiro e que “iria trazer-lhe o trabalho no começo de janeiro após viagem que faria à sua terra natal.
E depois?
- Após o anúncio da publicação do livro – que apareceu primeiro no jornal francês Le Figaro em 12 de janeiro – ocorreu uma tempestade de críticas contra o cardeal e o papa emérito apresentando-os em desacordo com o Papa Francisco. O cardeal foi criticado por ter “usado” Bento em sua empreitada. Sarah, largamente reconhecido como um homem honesto e íntegro, disse, em suas afirmações: “A polêmica que visa me prejudicar, ao dar a entender que Bento não estava informado de sua coparticipação no livro “Das profundezas de nossos corações”, é completamente desprezível”. Ele também disse que “sinceramente perdoava aos que o caluniam ou que pretendem colocá-lo em oposição ao Papa Francisco”. Minha união com Bento permanece intacta e minha filial obediência ao Papa Francisco absoluta”, escreveu.
(…)
- Em um tweet acompanhando as cartas, o Cardeal Sarah comentou que os ataques contra ele, por ter colocado o papa Bento como coautor do livro, “procuram dar a impressão que houve mentira de minha parte”, acrescentando que essas “difamações são de excepcional gravidade”.
- Em tweet posterior, de 14 de janeiro (já citado) ele escreveu: “Eu solenemente afirmo que Bento XVI sabia que o projeto tomaria a forma de um livro. Eu posso dizer que nós trocamos várias provas para fazer correções. Farei um pronunciamento mais detalhado esta manhã para deixar as coisas claras.
- Um elemento posterior a esta história é um comentário de Andrea Tornielli, diretor editorial do Vatican News, que escreveu em 13 de janeiro que o livro “traz a assinatura” de ambos, Bento XVI e o cardeal Sarah, também para a introdução e a conclusão. Em um texto neutro Tornielli notou que o livro tinha sido escrito “em filial obediência ao Papa Francisco” e os autores “estão procurando a verdade” em “espírito de amor pela unidade da Igreja” Ele então reiterou os pronunciamentos do Papa Francisco sobre o celibato”.
- Ainda assim, poucas horas após o pronunciamento do cardeal Sarah na manhã do dia 14, o Arcebispo Georg Ganswein disse à agência italiana ANSA: “Eu posso confirmar que esta manhã, seguindo instruções do Papa Emérito eu pedi ao Cardeal Robert Sarah que contatasse os editores e requisitasse que removessem o nome de Bento XVI como autor do livro bem como sua assinatura da introdução e da conclusão”.
- “O Papa Emérito sabia que o cardeal estava preparando um livro e enviou-lhe um texto sobre sacerdócio autorizando-o a usá-lo como quisesse. Mas ele não aprovou um projeto de coautoria do livro e ele não tinha visto nem autorizado a capa”. Arcebispo Ganswein continuou: “É um mal-entendido que não levanta dúvidas sobre a boa fé do Cardeal Sarah”.
- O Cardeal então twittou: “Considerando a polêmica causada pela publicação do livro “Da profundeza de nossos corações” ficou decidido que a autoria nas futuras edições será: Cardeal Sarah, com a contribuição de Bento XVI. Contudo, o texto permanecerá absolutamente inalterado”.
Afinal de contas qual o grande problema com a edição do livro? Por que certos círculos liberais católicos se enfureceram? Bento XVI não imaginara que seu nome no livro causaria tanto furor? Assustou-se e decidiu distanciar-se do projeto? Será que Nicolas Diat, o editor do livro, foi precipitado em colocar Bento XVI como coautor e não tinha expresso sua prévia desaprovação?
Ou foi o arcebispo Gänswein que se sentiu pressionado pela repercussão do livro na mídia, bem como pelo Vaticano e Santa Marta (talvez via Tornielli ) que assim convenceram Bento XVI a retroceder em seu envolvimento?
(…)
Para terminar: Claravalcister lembra frase inicial de Pentim: a polêmica causou muito calor e pouca luz.
O que realmente aconteceu?
Não sabemos. O que sabemos é que a mídia católica de esquerda e os progressistas ficaram indignados com um livro que, simplesmente, defende o que sempre foi ensinado pela Igreja. Pior: consideram-no uma crítica ao Papa Francisco.
Qual a lógica? Veremos em artigo do padre do padre Raymond.J.de Souza.