Em nossos dias cresce o clamor daqueles que pregam uma falsa caridade e uma falsa misericórdia separada da fé e dos mandamentos, tidos como meras práticas legalistas e farisaicas. Cegos diante da verdade ousam dizer que até mesmo quem não vive conforme os mandamentos podem comungar. Desde que tenham amor… Ou algo dele. Nada disso é conforme a doutrina católica. É o que nos ensina este grande doutor da Igreja. (V.O).
Até quando deixaremos de obedecer a Cristo, que nos chama para o seu Reino celeste? Até quando deixaremos de nos purificar? Não nos decidiremos a abandonar o nosso gênero habitual de vida, para seguir a fundo o Evangelho? Afirmamos desejar o Reino de Deus, mas não nos preocupamos excessivamente com os meios para alcançá-lo.
Pelo contrário, não nos preocupando minimamente com a observância dos mandamentos do Senhor, estamos convencidos, na vaidade do nosso espírito, de que somos dignos de receber a mesma recompensa que recebem aqueles que resistiram ao pecado até à morte. Mas quem é o homem que, tendo-se deitado em sua casa a dormir no tempo da sementeira, pode recolher braços cheios de espigas no tempo da colheita? Quem poderá fazer a vindima sem ter plantado e cultivado a vinha? Os frutos são para aqueles que trabalharam; as recompensas e as coroas, para aqueles que venceram. Foi jamais coroado atleta algum que não se tenha sequer despido para combater o adversário? E nem sequer basta vencer, é também necessário «lutar segundo as regras» (2Tim 2,5), como diz o apóstolo Paulo, isto é, segundo os mandamentos que nos foram dados.
Deus é bom, mas também é justo: o Senhor «ama a equidade e a justiça» (Sl 32,5); por isso, «celebrarei o amor e a justiça: para Vós, Senhor, hei de cantar» (Sl 100,1). Vê com que discernimento usa o Senhor de misericórdia. Não é misericordioso sem examinar, como não julga sem piedade, porque «o Senhor é bondoso e previdente, o nosso Deus é misericordioso» (Sl 114,5). Não tenhamos, pois, uma ideia truncada de Deus; o seu amor por nós não deve ser um pretexto para sermos negligentes.
São Basílio (c. 330-379), monge, bispo de Cesareia da Capadócia, doutor da Igreja
Grandes Regras monásticas, Prólogo
Nota: Os destaques em itálico e negrito são do site Claravalcister
FONTE: (Extraído do site “Falar com Deus” 16/09/2015).