Valter de Oliveira
Em maio de 2015 li consternado que uma missa celebrada na Igreja da Sé, em Olinda, marcou a abertura do processo de beatificação e canonização de dom Hélder Câmara. Na ocasião D Fernando Saburino, arcebispo de Olinda e Recife ressaltou: “Hoje é para nós um dia de muita alegria (…) porque iniciamos oficialmente o processo de beatificação e canonização de D. Helder (1).
O amigo leitor pode estranhar: se era motivo de júbilo para D. Fernando por que seria razão de tristeza para mim? A resposta é simples: porque vi desde meus 17 anos, desde que comecei a acompanhar a vida da Igreja, pronunciamentos e atitudes de D. Helder que, a meu juízo, fizeram muito mal à Igreja e às almas. Digo isso com tristeza porque sei o respeito que devemos ter por nossos bispos e religiosos. Não externaria minha opinião se minha consciência não me impelisse a isso.
É sabido que a simples abertura de um processo de canonização não implica na admissão, ipso facto, da santidade de alguém. Há processos que duram séculos, como foi o caso de S. Joana d’Arc e do Bem Aventurado José de Anchieta. O processo, que segue todo um tramite estabelecido pela Igreja, pode também chegar à conclusão que o servo de Deus (título que se dá à pessoa que se pretende canonizar) não praticou as virtudes heroicas próprias da santidade. Pode inclusive mostrar que sua vida teve falhas graves ou que seus escritos, por exemplo, não foram conforme a doutrina católica.
Quem viveu no tempo de D. Helder sabe que ele foi um homem muito controverso. Foi um dos líderes da ala progressista no Brasil. Esta sempre o considerou um bispo aberto ao mundo moderno, defendendo um diálogo fraterno com comunistas já que considerava possível a convergência da fé católica com os ideais socialistas. Há muito defendem sua canonização.
Lembremos ainda que devido a suas posições políticas D. Helder passou a ser chamado por muitos como arcebispo vermelho. Também foi criticado pelo descalabro que sua orientação pastoral provocou no seminário de sua diocese e pelo seu distanciamento da moral tradicional católica.
São só alguns pontos. Suficientes para, ao contrário de D. Fernando, ficar consternado com a abertura de seu processo de canonização. Meu consolo é saber que muita gente boa na Igreja se escandalizou com as atitudes do prelado de Olinda e Recife.
Minha tristeza com palavras e atitudes de D. Helder não vem de hoje. Um exemplo disso ocorreu em 1967 quando ele elogiou Lutero em palestra aos metodistas. Só a li anos depois (em 74 ou 75) quando fazia um estudo sobre a Reforma Protestante. Seu elogio ao reformador chocava-se brutalmente com tudo aquilo que estava lendo sobre o assunto. Resolvi escrever um artigo. Título: “Tem a Igreja o que aprender com Lutero?” Um amigo leu, gostou e conseguiu sua publicação em um jornal católico do Rio de Janeiro.
Hoje, é notório, D. Helder e Lutero, não importa o que pensemos sobre eles, continuam a influenciar o Brasil e o mundo. Volta e meia lemos referências sobre eles. Por isso mesmo julgo que o artigo que escrevi em minha juventude pode ser útil para que os amigos possam vir a conhecer um pouco mais as ideias do reformador alemão tão estimado por D. Helder e seus companheiros progressistas.
O artigo completo está no blog Claraval. Conto com a boa vontade dos amigos leitores e, naturalmente, aceito de bom grado, críticas e observações. Não se espantem com o estilo apologético do artigo. Vai ajudá-los a conhecer meu temperamento de jovem…
Espero que neste momento em que, a meu ver, a crise na Igreja se aprofunda, as informações dadas ajudem a todos a entender melhor a crise religiosa atual e a serem cada vez mais fiéis à Santa Igreja, pura e imaculada.
Leia o texto completo acessando o link abaixo:
http://claravalcister.blogspot.com.br/2016/07/tem-igreja-o-que-aprender-com-lutero.html
(1) O Estado de São Paulo, 03 de maio de 2015.