“UM APELO”. O BRADO DOS PROFESSORES DAS UNIVERSIDADES ROMANAS (E OUTRAS) AO PAPA FRANCISCO

 

 

Retomando o Ensinamento da Humanae Vitae (e da Veritatis Splendor). 

Stephan Kampowski

Por David S. Crawford e Stephan Kampowski *

 


Um Instrumentum laboris (documento de trabalho) foi preparado para a XIV Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos e publicado em 23 de junho de 2015. Ele abrange uma variedade de tópicos, referentes à temática do Sínodo da Família. O parágrafo 137 aborda um documento-chave do Magistério moderno, a encíclica Humanae Vitae, de um modo que tanto questiona a força do que ela ensina como propõe um método de discernimento moral que decididamente não é católico.

Esta abordagem do discernimento contradiz o que até agora tem sido ensinado pelo Magistério da Igreja sobre as normas morais, consciência e juízo moral, ao sugerir que uma consciência bem formada pode às vezes entrar em atrito com as normas morais objetivas.

Como teólogos morais católicos e filósofos, nós nos sentimos moralmente obrigados a pronunciar-nos contra a distorção do ensinamento católico que está implícito no parágrafo 137 do documento. Se for aprovado pelo Sínodo, o texto defeituoso do Instrumentum laboris levaria a uma grande confusão entre os fiéis. O parágrafo 137 deveria ser removido e substituído por um parágrafo que fala da consciência de uma forma mais precisa,  que celebre a sabedoria e a beleza da Humanae Vitae e que ajude os esposos a apreciar as graças que Deus disponibiliza para que eles possam viver o dom da sexualidade de acordo com o plano de Deus.

A Norma Moral 

A tradução oficial do Inglês no site do Vaticano é a seguinte:

Em relação ao rico conteúdo da Humanae Vitae e os problemas que ela trata, dois pontos principais emergem os quais é necessário que sejam analisados em conjunto. Um elemento é o papel da consciência entendida como a retumbante voz de Deus no coração humano, o qual por sua vez é treinado para ouvir. A outra é uma norma moral objetiva que não permite considerar o ato gerador como uma realidade a ser decidida arbitrariamente, independentemente do plano divino da procriação humana. Quando se dá uma ênfase exagerada no aspecto subjetivo, uma pessoa corre o risco de fazer facilmente escolhas egoístas. Uma ênfase exagerada sobre os outros resultados acaba por fazer com que se veja a norma moral como um peso insuportável e que não responde às necessidades e recursos de uma pessoa. Combinar os dois, sob a orientação regular de um competente guia espiritual, ajudará os casais a fazer escolhas que são humanamente gratificantes e que estejam em conformidade com a vontade de Deus.

Enquanto a tradução em Inglês é, em si mesma, altamente ambígua, o original italiano é, por outro lado, ainda mais problemático. Nossa própria tradução que pretende ser extremamente literal diz o seguinte:

Tendo presente a riqueza de sabedoria contida na Humanae Vitae, em relação às questões por ela abordadas, sobressaem dois polos que se devem conjugar constantemente. Por um lado, o papel da consciência entendida como voz de Deus que ressoa no coração humano educado a ouvi-la; por outro, a indicação moral objetiva, que impede a consideração da generatividade como uma realidade sobre a qual decidir arbitrariamente, prescindindo do desígnio divino sobre a procriação humana. Quando prevalece a referência ao polo subjetivo, corre-se facilmente o risco de fazer escolhas egoístas; no outro caso, a norma moral é sentida como um peso insuportável, que não corresponde às exigências e nem às possibilidades da pessoa. A conjugação destes dois aspectos, vivida com o acompanhamento de um guia espiritual competente, poderá ajudar os cônjuges a fazer escolhas plenamente humanizadoras, em conformidade com a vontade do Senhor.

Enquanto a tradução em inglês suaviza a divisão implícita entre consciência e normas ao falar de “dois pontos principais”, o texto italiano (assim como em português e espanhol) endurece essa divisão como “dois polos.” Se a tradução em inglês fala de “excesso de ênfase”, o texto italiano fala de um dos dois polos como “predominante”. A linguagem de trabalho do Sínodo do ano passado era o italiano, por isso, presumimos que será o mesmo este ano. O original italiano, portanto, parece ser a versão mais importante do texto.

Seja qual destas duas versões for usada, todavia, o parágrafo 137 não apresenta bem nem o papel da consciência e nem o significado das normas. O palavreado do parágrafo é profundamente ambíguo e tende a retratar a norma moral como algo alheio à pessoa humana e à boa vida que somos chamados a viver. E assim, sugere que a norma moral é exclusivamente negativa e, por assim dizer, coerciva. Esta ênfase na função proibitiva da norma moral ignora o papel positivo da mesma na promoção do crescimento moral da pessoa e sua realização para o bem. Isso porque a passagem falha em ensinar que a norma em si, em toda a sua objetividade, revela algo crucial para a beleza e bondade de uma vida humana bem vivida e, por outro lado, também deixa a impressão de que as normas morais são de fato “um peso insuportável” que “não respondem às necessidades e recursos de uma pessoa.”

O modo em que o parágrafo apresenta a norma moral contrasta com o que a Veritatis splendor diz no n. 15:  “Jesus mostra que os mandamentos não devem ser entendidos como um limite mínimo a não ultrapassar, mas antes, como uma estrada aberta para um caminho moral e espiritual de perfeição, cuja alma é o amor (cf. Col 3, 14).” A compreensão das normas morais exclusivamente como constituindo limites externos, potencialmente em concorrência com o bem do sujeito moral, ignora o modo como Jesus Cristo fala sobre os mandamentos como imbuídos da plenitude de vida que Ele promete.

A sugestão de que o conteúdo objetivo de uma norma moral pode não vir ao encontro “das necessidades de uma pessoa”, de modo que a conformidade com os seus mandamentos podem não promover o bem moral de uma pessoa, ou seja, o “bem da pessoa” (cf. VS 50), contradiz a compreensão católica da moralidade. A visão de que as normas morais podem não promover a felicidade humana sugere uma visão nominalista e arbitrária da lei moral, segundo a qual um ato seria mau por nenhuma outra razão senão pelo fato de ser proibido. Tal perspectiva, de modo algum corresponde à realidade do ato criativo de Deus. Pelo contrário, a lei moral corresponde à verdade do ato criativo de Deus e expressa verdades antropológicas que não podem ser ignoradas ou violadas, sem acarretar prejuízos às nossas “necessidades e recursos”, o que quer dizer, sem causar um mal a nós mesmos.

Sustentar que o conteúdo objetivo das normas morais, como encontrado nas Escrituras e exposto pelo Magistério, pode não corresponder aos  “recursos” ou capacidades da pessoa humana, nega o ensino explícito, esperançoso e consolador do Concílio de Trento: “Ninguém pois, mesmo justificado, se deve considerar livre da observância dos mandamentos; ninguém se deve apropriar daquela expressão temerária e já condenada com a excomunhão pelos Padres, segundo a qual é impossível ao homem justificado observar os mandamentos de Deus. De fato, Deus não manda coisas impossíveis, mas ao ordená-las exorta-te a fazeres tudo o que podes, e a pedires o que não podes, ajudando-te para que possas; com efeito, “os mandamentos de Deus não são pesados” (cf. 1 Jo 5, 3) e “o Seu jugo é suave e o Seu fardo leve” (cf. Mt 11, 30) “(Sessão VI.11).

O parágrafo 137 do Instrumentum Laboris não aconselha a confiar em Deus para buscar a força para se conformar aos seus mandamentos, mas, ao invés disso, sugere que um sujeito moral pode ser capaz de encontrar um ponto médio para equilibrar “suas necessidades e recursos” através de um auto-discernimento subjetivo do conteúdo real da lei moral. O que está completamente perdido aqui é o entendimento do Concílio sobre a graça da redenção de Cristo, que é reiterado no capítulo III da Veritatis splendor: “Para não desvirtuar a Cruz de Cristo”.

Uma pastoral autêntica não procura adaptar a lei moral às capacidades percebidas dos esposos (“gradualidade da lei”), mas sim acompanhá-los em um (talvez longo e árduo) caminho de crescimento moral, o qual, pelo poder da graça de Deus, faz com que seja possível abraçá-lo («lei da gradualidade”) (cf. FC 34). A lei da gradualidade é aplicada por confessores que não são duros demais com aqueles cônjuges que repetidamente falham na fidelidade ao desígnio de Deus para a sexualidade. Os esposos, por sua vez, são encorajados a procurar mais ardentemente as graças necessárias para ordenar adequadamente os seus desejos sexuais.

Consciência

A apresentação da consciência no Parágrafo 137 não é menos ambígua e incompleta: “Nos diz que a consciência é a voz de Deus ecoando no coração humano, que é treinado para ouvir“.

Esta definição parece ser uma distorção do parágrafo 16 da Gaudium et Spes que diz: “No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e à fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgado. A consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser. Graças à consciência, revela-se de modo admirável aquela lei que se realiza no amor de Deus e do próximo”.

Instrumentum Laboris falha ao enfatizar que a consciência faz referência à lei inscrita em nossos corações, que é o modo como a “voz de Deus” deve ser interpretada. A “voz” de Deus não diz a um, uma coisa sobre a moralidade, e a outro, outra coisa; e jamais fala contra uma norma objetiva ensinada pela Igreja. Falar sobre a voz de Deus de uma maneira que parece separada da lei moral, ou que parece faltar uma referência à ela, é manifestadamente inapropriado. É errado falar de um polo subjetivo à margem da lei, o qual deveria então ser conjugado com a lei.

O que se segue com os erros do parágrafo 137 parece ser não apenas o risco de “escolhas egoístas”, mas sim um subjetivismo radical em nossa compreensão da vida moral, na medida em que a consciência é separada da presença interna e iluminante da lei moral. Uma vez que a consciência é separada da lei, isso já não é mais um modo de estar diante de Deus. Pelo contrário, por esta maneira de pensar, em sã consciência uma pessoa estará somente diante de si mesma. O comentário da Veritatis Splendor sobre Romanos 2: 14-15 expressa o modo pela qual a consciência, devidamente compreendida, traz-nos diante da presença de Deus: “De acordo com as palavras de S. Paulo, a consciência, de certo modo, põe o homem perante a lei, tornando-se ela mesma «testemunha» para o homem: testemunha da sua fidelidade ou infidelidade relativamente à lei, ou seja, da sua essencial retidão ou maldade moral. (para.57).

A ideia de que a consciência faz uma referência intrínseca a uma verdade objetiva sobre o bem está completamente ausente do parágrafo nº 137. Ao apresentar a consciência como uma faculdade subjetiva que se sustenta em oposição dialética à lei, o Instrumentum Laboris propõe um conceito que é incompatível com o ensino do Magistério da Igreja e que diminui a dignidade espiritual da pessoa humana como alguém capaz de conformar as suas ações à verdade objetiva.

 

Julgamento Moral

De acordo com a lógica do parágrafo 137, o julgamento moral não é mais um juízo da consciência iluminado pela lei, mas sim a “combinação” de dois polos, um subjetivo e outro objetivo. Devemos enfatizar que a conjunção dos dois elementos dialéticos ocorre sem qualquer critério. Permanecendo a consciência e a lei como dois polos que precisam se reconciliar, nenhum deles pode fornecer critérios pelo qual essa combinação poderia se dar. Em outras palavras, o Instrumentum Laboris parece implicar que o critério último da moralidade é arbitrário.

Uma ajuda externa a partir de um “guia espiritual competente” não é solução para essa dificuldade. Enquanto uma direção espiritual fiel, sem dúvida, pode ter muitos benefícios, a necessidade de se ter que apelar para isso, neste contexto, nada mais é que uma forma de reconhecer a falta de critérios – com a devida exceção para a orientação do diretor espiritual – na qual basear-se para uma decisão final. Vale ainda ressaltar que bem poucos casais, de fato, têm acesso a uma direção espiritual regular. Mais fundamentalmente, esta solução faz com que as pessoas casadas dependam do julgamento moral de especialistas pastorais, uma dependência que contradiz a própria natureza da consciência.

Um diretor espiritual não terá acesso mais completo aos critérios objetivos do que uma consciência bem formada (treinada para ouvir), e a missão de um diretor espiritual é jamais recomendar ou tolerar a violação da lei moral de Deus. Na verdade, a própria Humanae Vitae enfatiza que aqueles que guiam os cônjuges jamais devem comprometer a verdade: “Um sinal marcante de caridade para com as almas é não omitir-lhes nada da doutrina salvadora de Cristo” (HV 29).

São João Paulo II, o Papa da Família, esclareceu sobre a impossibilidade de que uma avaliação privada e subjetiva dos bens poderia superar os bens objetivos: “Falar de um ‘conflito de valores ou de bens’ e da consequente necessidade de medi-los uns contra os outros, escolher um e rejeitar o outro, não é moralmente correto e apenas causa confusão na consciência dos esposos“.

Ainda, ao apresentar o julgamento moral como um possível conflito entre a consciência e a moralidade objetiva, o parágrafo nº 137 cai naquele erro condenado no parágrafo 56 da Veritatis splendor: “Para justificar semelhantes posições, alguns propuseram uma espécie de duplo estatuto da verdade moral. Para além do nível doutrinal e abstrato, seria necessário reconhecer a originalidade de uma certa consideração existencial mais concreta. Esta, tendo em conta as circunstâncias e a situação, poderia legitimamente estabelecer exceções à regra geral permitindo desta forma cumprir praticamente, em boa consciência, aquilo que a lei moral qualifica como intrinsecamente mau. Deste modo, instala-se, em alguns casos, uma separação, ou até oposição entre a doutrina do preceito válido em geral e a norma da consciência individual, que decidiria, de fato, em última instância, o bem e o mal. Sobre esta base, pretende-se estabelecer a legitimidade de soluções chamadas «pastorais», contrárias aos ensinamentos do Magistério, e justificar uma hermenêutica «criadora», segundo a qual a consciência moral não estaria de modo algum obrigada, em todos os casos, por um preceito negativo particular”.

A encíclica de João Paulo II prevê, por assim dizer, a linguagem do Instrumentum laboris e suas preocupações a respeito de cargas sobre nossas “necessidades e recursos”: “A doutrina da Igreja, e particularmente a sua firmeza em defender a validade universal e permanente dos preceitos que proíbem os atos intrinsecamente maus, é julgada frequentemente como sinal de uma intransigência intolerável, sobretudo nas situações extremamente complexas e conflituosas da vida moral do homem e da sociedade de hoje: uma intransigência que estaria em contraste com o sentido materno da Igreja. Nesta, dizem, escasseiam a compreensão e a compaixão. Mas, na verdade, a maternidade da Igreja nunca pode ser separada da missão de ensinar que ela deve cumprir sempre como Esposa fiel de Cristo, a Verdade em pessoa: «Como Mestra, ela não se cansa de proclamar a norma moral (…) De tal norma, a Igreja não é, certamente, nem a autora nem o juiz. Em obediência à verdade que é Cristo, cuja imagem se reflete na natureza e na dignidade da pessoa humana, a Igreja interpreta a norma moral e propõe-na a todos os homens de boa vontade, sem esconder as suas exigências de radicalidade e de perfeição» “(VS 95).

As formulações ambíguas e imprecisas do parágrafo 137 sugerem uma rejeição da existência de atos intrinsecamente maus. O texto implica que não existem normas morais que têm validade absoluta, universal e imutável e que proíbem atos intrinsecamente maus sempre e sem exceção. Desta forma, a passagem parece questionar a Tradição da Igreja e o ensino explícito da encíclica Veritatis Splendor (79-82; 115).

O verdadeiro conteúdo da Humanae Vitae

O parágrafo 137 apresenta  o ensinamento da Humanae Vitae de um modo que acarreta numa séria má interpretação, bem diferente de seu verdadeiro significado. O Instrumentum laboris resume a encíclica a um documento segundo o qual “a norma moral objetiva não permite considerar o ato de geração como uma realidade a ser decidida arbitrariamente, independente do plano divino da procriação humana”.

A frase “a ser decidida arbitrariamente” induz à ideia de que as práticas contraceptivas podem ser aceitáveis, desde que elas não sejam usadas por razões “arbitrárias”. Infelizmente, esta frase, vista especialmente à luz de outros pontos preocupantes do parágrafo, sugere que motivos “não-arbitrários” podem permitir a utilização de métodos contraceptivos em algumas circunstâncias. O parágrafo certamente poderia ter deixado mais claro que a Humanae Vitae não permite isso (cf. HV 11).  A Humanae Vitae ensina que o plano de Deus para a relação conjugal “[exclui] toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível procriação” (HV 14).

Finalmente, o nº 137 está muito longe de promover a robusta antropologia na qual B. Paulo VI, e depois dele S. João Paulo II, basearam o preciso ensino normativo da Igreja: os seres humanos são criados para amar e serem amados. Contracepção, de fato, é incompatível com o amar e ser amado. Através do uso de contraceptivos, não apenas o sentido procriador do ato conjugal é rejeitado, mas o significado do ato como um genuíno ato “unitivo” de amor é também comprometido radicalmente (cf. HV 12). Em sua catequese sobre o amor humano (“Teologia do Corpo“), João Paulo II estabeleceu uma ampla defesa da Humanae Vitae, baseada nas Sagradas Escrituras sobre o significado conjugal do corpo. O ato sexual é um ato de auto-doação que completa a si mesmo e ao outro e está intrinsecamente ordenado a uma adequada fecundidade do amor conjugal. Infelizmente, o Instrumentum não tira nada da profunda teologia de João Paulo II sobre o corpo, uma teologia que recusa a ver as normas morais objetivas como em atrito com o bem humano ou em conflito com uma consciência da bondade do ato conjugal.

Embora o parágrafo 137 ainda cite o “rico conteúdo” da Humane Vitae, na verdade, mina o propósito central da encíclica.

De acordo com as expressas intenções de Paulo VI (cf. HV 4), e seguindo os desejos do Concílio Vaticano II ao promover esse tipo de documento (cf. GS 51), a Humanae Vitae visa oferecer nada menos do que uma interpretação normativa da natural lei moral natural.

Conclusão

Em face do exposto, nós acreditamos que o texto do Instrumentum Laboris é gravemente defeituoso. Parece entrar em direto conflito com os ensinamentos do Magistério contidos na Humanae Vitae e Veritatis splendor. Enquanto o parágrafo 137 é apresentado como uma explicação do significado da Humanae Vitae, de fato, esvazia a encíclica de seu ensinamento central. O que está em jogo aqui não é um detalhe sutil, mas uma grave distorção do conteúdo básico do documento de Paulo VI. As inadequações e imprecisões contidas no Instrumentum laboris podem acarretar consequências devastadoras para os fiéis, que têm o direito de conhecer a verdade do Depositum Fidei. Na verdade, se for aprovado pelo Sínodo, o n.º 137, irá semear a confusão entre os fiéis. Os fiéis não mais serão incentivados a apreciar e viver o belo e afirmativo ensino sobre a sexualidade estabelecido na Humanae Vitae. Eles ficarão confusos no que diz respeito à relação entre a consciência e a verdade moral objetiva. Em última análise, essa confusão não ficará restrita apenas ao ensinamento da Humanae Vitae. Ao permitir que as formulações do parágrafo 137 se estabeleçam como parte do ensinamento do Sínodo implicaria que a sua lógica poderia também ser aplicada a outras áreas em que o ensinamento da Igreja é taxativo sobre outros atos intrinsecamente maus, como o aborto ou a eutanásia.

Nós já percorremos esse caminho antes. O fracasso de teólogos e até mesmo bispos e sacerdotes em dar um apoio robusto ao ensinamento da Humanae Vitae levou a décadas de uma fidelidade bem frágil ao Magistério da Igreja, não só em matéria sexual, mas em todos os demais aspectos. O Sínodo é uma oportunidade para corrigir essa deficiência. O parágrafo § 137 deveria ser rejeitado e substituído por um forte apoio ao ensinamento da Humanae Vitae e uma clara explicação da relação entre consciência e normas morais objetivas, como ensinado na Veritatis Splendor.

Nós emitimos esta declaração em nossa competência de teólogos morais católicos e filósofos, que desejam dar uma contribuição para o sucesso do Sínodo. Que ele seja sempre guiado pela verdade, pois é a verdade em si que permite o diálogo, na medida em que fornece os parâmetros dentro dos quais o diálogo pode ocorrer. Com este apelo nós exercemos a parresia, a franqueza no falar, tão desejados pelo Papa Francisco para o desenvolvimento do Sínodo dos Bispos. Também buscamos realizar o nosso papel no discernimento do bem moral a serviço da Igreja e de todos os fiéis. (cf. VS 113).

Autores

David S. Crawford é Professor Associado de Teologia Moral e Direito de Família e Reitor Adjunto de Assuntos Acadêmicos no Instituto Pontifício João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família em Washington, DC.

Stephan Kampowski é o Professor de Antropologia Filosófica no Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família em Roma, Itália.

Colaboradores

Rev. Dr. Nicanor Austriaco, O.P.

Providence College, Providence, RI

Rev. Dr. Thomas V. Berg

Seminário de S. José (Dunwoodie), Yonkers, Nova Iorque

Rev. Dr. Stephen L. Brock

Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, Itália

Rev. Dr. Basil Cole, O.P.

Pontifícia Faculdade da Imaculada Conceição, Casa Dominicana de Estudos, Washington, DC

Rev. Dr. Leo Elders

Seminário Maior, Rolduc, Holanda

Rev. Peter Elliott

Instituto João Paulo II para o Matrimônio e a Família, Melbourne, Australia

Dr. Maria Fedoryka

Ave Maria University, Ave Maria, FL

Dr. John M. Finnis

Universidade de Oxford, Inglaterra e University of Notre Dame du Lac, Notre Dame, IN

Rev. Dr. Kevin Flannery, S.J.

Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, Itália

Rev. Dr. Robert Gahl

Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, Itália

Dr. Jorge L. A. Garcia

Boston College, Boston, MA

Rev. Dr. Fernando García Alvaro

Seminário Diocesano de Valladolid, Espanha

Dr. Gay-Crosier Véronique

Universidade de Fribourg, Suíça

Prof. Luke Gormally

Centro de Bioética Anscombe (O Centro Linacre), Oxford, Inglaterra

Dr. Oana Gotia

Pontifício Instituto João Paulo II, Roma, Itália

Rev. Dr. Daniel Granada Cañada

Universidade de Navarra, Espanha

Dr. Germain Grisez

Emérito da Universidade Mount St. Mary, Emmitsburg, MD

Rev. Dr. Bento M. Guevin

Santo Anselmo College, Manchester, NH

Dr. Michael Hanby

Pontifício Instituto João Paulo II, Washington, DC

Dr. Margaret Harper McCarthy

Pontifício Instituto João Paulo II, Washington, DC

Dr. Reinhard Hütter

Duke Divinity School, Durham, NC

Dr. Steven Jensen

Universidade de St. Thomas, Houston, TX

Dr. Mark Johnson

Universidade Marquette, Milwaukee, WI

Rev. Dr. Tomasz Kraj

Pontifícia Universidade de João Paulo II, Cracóvia, Polônia

Rev. Dr. Juan de Dios Larrú

Universidad San Dámaso Eclesiástica, Madrid, Espanha

Dom Andreas Laun

Bispo Auxiliar de Salzburg, Áustria

Rev. Dr. Raúl López Sacristán

Universidad San Dámaso, Madrid, Espanha

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Membros do Conselho Pontifício para a Família (desde a sua fundação em 1981), Alemanha

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Pontifício Instituto João Paulo II, Roma, Itália

Rev. Dr. Jarosław Merecki

Pontifício Instituto João Paulo II, Roma, Itália

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Pontifício Colégio Josephinum, Columbus, OH

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Abade da Abadia de Saint-Wandrille, França

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Pontifício Instituto João Paulo II, Roma, Itália

Dr. Eduardo Ortiz

Universidad Católica de Valência, Espanha

Dr. Michael Pakaluk

Ave Maria University, Ave Maria, FL

Rev. Dr. José María Pardo Sáenz

Universidade de Navarra, Espanha

Rev. Dr. Juan José Pérez-Soba

Pontifício Instituto João Paulo II, Roma, Itália

Rev. Dr. Marian Pokrywka

Universidade Católica de Lublin, Polônia

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Rev. Dr. Martin Rhonheimer

Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, Itália

Rev. Dr. Angel Rodríguez Luno

Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, Itália

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Pontificia Universidad Católica Argentina, Buenos Aires, Argentina

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Pontifício Instituto João Paulo II, Washington, DC

Dr. Robert Spaemann, Emeritus

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Institut Catholique de Toulouse, França

Rev. Dr. Juan Andrés Talens Hernandis

Facultad de Teologia Valência, Espanha

Dr. Steven Craig Titus

Instituto de Ciências Psicológicas, Arlington, VA

Dr. Christopher Tollefsen

University of South Carolina, Columbia, SC

Dr. Mats Wahlberg

Universidade de Umeå, na Suécia

Rev. Dr. Thomas Joseph White, O.P.

Casa Dominicana de Estudos, Washington, DC

Rev. Dr. Luigi Zucaro

Pontifício Instituto João Paulo II, Roma, Itália

Fonte: Publicado originalmente em *– First Things

Extraído de Fratresinunum.com. Tradução Gercione Lima.

Publicado também em http://familiarisconsortio.ive.org/un-gravisimo-error-moral-en-el-instrumentum-laboris-para-el-sinodo/

http://www.infovaticana.com/2015/09/11/instrumentum-laboris-contrapone-la-conciencia-a-la-norma-moral-objetiva/

 

 

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