TRADICIONALISTAS E A DIGNITAS INFINITA

Tradicionalistas: elogios e críticas à “Dignitas Infinita”

Introdução do claravalcister

Valter de Oliveira

Assim como há diferentes liberais e diferentes socialistas – incluindo os marxistas – também encontramos divergências ou facções entre os tradicionalistas. Devido a isso podemos compreender porque divergem nas críticas ao Vaticano II e aos Papas que nos governaram desde então. Consideram que o fazem com justiça porque dizem que estão defendendo a verdadeira Igreja. Não saíram dela, outros é que as teriam abandonado ao tentar corrompe-la.

Não levo em conta aqui sede vacantistas, ou seja, aqueles que afirmam que não temos Papa atualmente.

Os tradicionalistas apresentaram muitos artigos sobre a “Dignitas Infinita” com críticas mais ou menos extensas que também variam em profundidade. Apresentamos dois deles no estilo histórico jornalístico que usamos nesta série sobre a D. I.

Começamos com oum artigo, mais suave, do professor e historiador italiano Roberto de Mattei.

Artigo 1. Título: A Declaração Dignitas Infinita e o mistério da Igreja no nosso tempo. Autor: Roberto de Mattei (1)

Roberto de Mattei

Logo de início o historiador elogia um tópico da “Dignitas Infinita” no qual é dito que é melhor usarmos a expressão dignidade humana e não dignidade pessoal. Ele comenta:

“Estamos aqui longe de um certo personalismo, que afirma basear a dignidade e os direitos humanos na “pessoa”, e não na natureza humana. A reafirmação da lei natural é a pedra angular do documento. Portanto, diante dos chamados “novos direitos”, Dignitas Infinita afirma que “a dignidade da pessoa humana se funda, antes, nas exigências constitutivas da natureza humana, que não dependem nem da arbitrariedade individual nem do reconhecimento social. Os deveres que decorrem do reconhecimento da dignidade do outro e dos direitos correspondentes que dele derivam têm, portanto, um conteúdo concreto e objetivo, baseado na natureza humana comum” (D.I. n. 25).

A seguir lembra que “o Cardeal Fernandez “destacou na apresentação do documento, que o Papa pediu que nele fossem destacadas algumas questões que lhe são caras: a tragédia da pobreza, a situação dos migrantes, a violência contra as mulheres, o tráfico de pessoas, a guerra e outras” E acrescenta: “Contudo, (ressalta ele)  todos os observadores sublinharam que a parte mais significativa da Declaração é aquela dedicada às violações da dignidade humana perpetradas no mundo contemporâneo contra a vida e a família.

A seguir o historiador destaca, com satisfação, as críticas da DI ao aborto, a condenação da prática da barriga de aluguel, a eutanásia e o suicídio assistido, a cultura de descarte dos deficientes, a teoria de gênero e a condenação de mudança de sexo.

Como se vê, nada diferente do que foi elogiado pelos conservadores. Mas, como bom tradicionalista, apresenta uma séria discordância:

“Na declaração Dignitas infinita, uma afirmação contradiz o ensinamento católico: a pena de morte é condenada não porque seja inadequada, mas porque é considerada intrinsecamente imoral. Em contrapartida, o ensinamento constante da Igreja, até ao Novo Catecismo de João Paulo II, afirma a sua permissibilidade em princípio “

Há mais críticas?

Sim. Elas vão atingir também dois outros documentos do Vaticano. Ele diz que as faz em espírito de “resistência filial”:

“Algumas outras lacunas podem ser apontadas, mas com a cautela que se deve aos documentos pontifícios. A menos que neles se detectem erros ou ambiguidades, que podem prejudicar diretamente as almas, como foi o caso da exortação Amoris laetitia (2016) a respeito dos divorciados recasados ​​ou da declaração Fiducia supplicans (2023), a respeito da bênção dos casais do mesmo sexo. Neste caso, uma resistência filial foi e continua a ser necessária. Contudo, se é verdade que as palavras de Bento XVI e de João Paulo II sobre os valores inegociáveis ​​são uma ajuda importante contra a ditadura do relativismo, sem significar necessariamente adesão a cada ato ou declaração destes Pontífices, o ensinamento do Papa Francisco também deve ser bem acolhido quando segue as linhas dos seus antecessores, como é o caso do último documento.

(…)

Roberto de Mattei finaliza:

“A história é feita de sombras e de luz, e não podemos esquecer que a Igreja é um mistério, como o sacrifício da Cruz da qual Ela nasceu no Calvário (Pio XII, Discurso de 4 de dezembro de 1943). Na hora de confusão em que vivemos, este mistério deve ser acolhido e contemplado com toda a nossa compreensão e piedade”. 

Notas:

  1. Roberto de Mattei é historiador italiano. Professor de história moderna e história do Cristianismo na Universidade Europeia de Roma. Também é fundador e Presidente da Fundação Lepanto. Entre seus vários livros destacam-se “Concílio Vaticano II, uma história nunca escrita e uma biografia do prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Em 2008, foi agraciado pelo Papa Bento XVI com a comenda da Ordem de São Gregório Magno, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à Igreja
  2. Os destaques em negrito são do site claravalcister.com

Fonte: https://rorate-caeli.blogspot.com/

ARTIGO 2: “O Papa Francisco está pisando no freio? Artigo de 11 de abril p.p. Autor: Allan Ruhl

Allan Ruhl

O articulista começa dizendo claramente o que pensa do documento e do Papa Francisco:

“(…) foi divulgado o prometido documento da Páscoa sobre a dignidade humana. Pelos padrões católicos, o documento é bastante problemático. Contudo, pelos padrões deste pontificado, não é tão mau como poderia ter sido. De qualquer forma, o documento pode indicar que Francisco está pisando no freio, o que seria uma boa notícia. Mas vamos examinar algumas coisas primeiro.

Em seguida ele aponta o que considera uma incoerência da D.I. ao citar o Genesis e rejeitar a pena de morte. Primeiro o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé afirma que, como ensina a Revelação Bíblica, somos criados à imagem e semelhança de Deus (Gen. 1:26-27). Allan então lembra o que, alguns capítulos adiante, é dito no mesmo livro do Gênesis:“Todo aquele que derramar o sangue do homem, o seu sangue será derramado: porque o homem foi feito à imagem de Deus”. Gênesis não apenas endossa a pena de morte para homicídio, mas também a vincula à imagem de Deus; a mesma fonte que Dignitas Infinita usa para a reivindicação de dignidade inerente universal”. 

Dito isso o articulista ironiza:

“Aparentemente, Gênesis e o Cardeal Fernandez têm opiniões diferentes sobre a dignidade humana”.

Na questão LGBT o autor considera que há outra inconsistência. Ele distingue pratica homossexual de inclinação ao pecado.  Começa por citar um ponto da D.I.

“A Igreja deseja, em primeiro lugar, «reafirmar que cada pessoa, independentemente da sua orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e tratada com consideração, ao mesmo tempo que deve ser cuidadosamente evitado “qualquer sinal de discriminação injusta”, especialmente qualquer forma de agressão e violência.” Por esta razão, deve ser denunciado como contrário à dignidade humana o facto de, em alguns lugares, não poucas pessoas serem presas, torturadas e até privadas do bem da vida apenas por causa da sua orientação sexual”

Qual é a objeção de Allan? Ele explica:

“O católico mais tradicional que conheço não acredita que uma inclinação para o pecado deva ser causa de prisão ou morte, mesmo que vivêssemos num estado confessional totalmente católico sob o reinado de Cristo (tal coisa) não aconteceria. (Qualquer tendência para o pecado é apenas isso – uma tentação – ninguém jamais defendeu a punição para a tentação (o que, diz ele também, não aconteceria nem na Rússia de Putin).  Isto é totalmente diferente de cometer um pecado que clama ao céu por vingança. Neste caso, acentua Ruhl, “a promoção ou prática do estilo de vida é motivo de penalidade governamental, (…) Isso não é “discriminação injusta”, mas discriminação mais justa”.

Por brevidade deixamos de lado contradições que ele aponta em posturas do cardeal Fernández entre diferentes documentos.  Vamos para o final onde ele conclui que os recuos elogiáveis da DI e do Vaticano não passam de uma estratégia:

“Quando Fiducia Supplicans foi lançado e a reação global veio, previ que Francisco e Fernandez teriam uma de duas reações opostas no futuro. A primeira seria apostar tudo, pois agora estão comprometidos e não há como voltar atrás. A segunda seria recuar, pelo menos temporariamente. Parece que eles fizeram o último”

Nota: Os destaques em negrito são do site claravalcister.com

Allan Ruhl  é um apologista e blogueiro do YouTube que mora no oeste do Canadá. É formado em Engenharia pela Universidade de Alberta e especializou-se em religião. Seus principais interesses são a história da Igreja e a apologética islâmica.

Fonte: https://onepeterfive.com/is-pope-francis-pumping-the-brakes/

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­______________________________________

CONCLUINDO

Muitos outros autores fazem críticas à “Dignitas Infinita”. Diria que são contundentes. Deixo ao leitor examiná-los caso ache conveniente.

Um deles é de Jeanne Smits, jornalista pró-vida que critica o que considera falta de visão de conservadores e de certos tradicionalistas ao analisar o documento do Vaticano.  Sua visão está bem expressa no título: “Dignitas Infinita” uma visão naturalista da humanidade”.

https://muckrack.com/jeanne-smits/bio#:~:text=Catholic%20and%20pro%2Dlife%20journalist,Paris%20correspondent%20for%20LifeSiteNews

Outro artigo, escrito por TS Flandres, tem um  título  curioso: “Dignitas Infinita: o bom, o mau e o feio

Terminaremos a série explicando a visão da corrente progressista. Os amigos verão que também há muitas críticas contundentes.

Nada porém que possa causar desânimo em quem ama a Igreja de Cristo.

Tags , , .Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Deixe um comentário