A MORTE E A ETERNIDADE

Valter de Oliveira

O doloroso e trágico acidente de avião que ocorreu em Vinhedo, SP, no último fim de semana, afetou a todos nós. Ver o avião cair em parafuso deve ter-nos levado a imaginar como reagiram aquelas 62 pessoas que viram que iriam morrer em poucos segundos. Colocamo-nos no lugar delas e perguntamo-nos: – E eu, o que teria feito?

Em princípio, não sabemos. O instinto de conservação é forte, especialmente se ainda se está na flor da idade. Em alguns o medo fala mais alto, e certas reações, que beiram ao desespero, podem ocorrer. Outros, por várias razões, mantém um certo controle. Pensam no cônjuge, nos filhos, nos amigos e se unem a Deus em uma última oração.

Aqui fica uma pergunta: pode encarar-se a morte com serenidade?

A visão da vida e da morte que todos temos pode contribuir para darmos uma resposta.

Há quem não creia em Deus. Não importa a razão. São homens e mulheres que acreditam que são frutos do acaso, que não passamos de um conglomerado de células que formam o corpo humano. Não há alma. Nossa vida irá expirar, inexoravelmente, um dia. Perdão. Alguns desses acreditam também que, no futuro, a ciência nos fará imortais.

Acontece que esse dia ainda não chegou (nem chegará). Para todos nós a pergunta continua: como encarar a morte?

Por outro lado, temos pessoas que acreditam na eternidade, em um Deus pessoal que nos recebe se formos fiéis aos desígnios divinos e à nossa consciência retamente formada, arduamente formada.

Quem crê em Deus e na eternidade teme a morte?

A fé – e aqui evoco a fé cristã – nos ensina que o homem não foi criado para morrer. Deveríamos viver no Paraíso e, após certo tempo, seríamos chamados para viver na companhia de Deus, eternamente, em um lugar que chamamos de Céu. Por não seguir o plano divino, por pecarmos, nossa vida passou a ser diferente. Não temos mais a ciência infusa. Nossa inteligência ficou obnubilada, nossa vontade enfraquecida, e a sensibilidade, desordenada, rebelde, arrastando-nos para o agradável, mas perecível. A partir daí todos, mesmo os crentes, podem se portar mal diante da vida e da morte. Temos a tentação de vivermos como se a morte não viesse e não houvesse um bom Deus nos aguardando no final de nossas vidas.

Textos da Sagrada Escritura e de muitos santos tratam do tema e nos convidam a saber viver e a saber morrer.

Tendo isso em vista transcrevo 12 pensamentos de S. Josemaría Escrivá, São motivos de alento para todos nós.

1. “Se alguma vez te tira tranquilidade o pensamento da nossa irmã a morte (porque te vês tão pouca coisa!), anima-te e considera: – Que será esse Céu que nos espera, quando toda a formosura e a grandeza, toda a felicidade e o Amor infinitos de Deus se derramarem no pobre vaso de barro que é a criatura humana, e a saciarem eternamente, sempre com a frescura de uma nova alegria?”

 “

2. “A morte chegará inexoravelmente. Portanto, que oca vaidade centrar a existência nesta vida! Olha como padecem tantas e tantos. A uns, porque ela se acaba, dói-lhes deixá-la; a outros, porque dura, enfastia-os… Em caso algum tem cabimento a atitude errada de justificarmos a nossa passagem pela terra como um fim. É preciso sair dessa lógica, e ancorar-se na outra: na eterna. É necessária uma mudança total: um esvaziar-se de si mesmo, dos motivos egocêntricos, que são caducos, para renascer em Cristo, que é eterno”.

Sulco, 879

3. “Continua em frente, com alegria, com esforço, mesmo que valhas tão pouco, nada!
– Com Ele, ninguém te deterá no mundo. Pensa, além disso, que tudo é bom para os que amam a Deus: nesta terra, tudo tem conserto, menos a morte: e, para nós, a morte é Vida.

Forja, 1001

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4.Sem medo da morte

Se és apóstolo, a morte será para ti uma boa amiga que te facilita o caminho.

Caminho, 735

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5. Aos “outros”, a morte os paralisa e assusta. A nós, a morte – a Vida – dá-nos coragem e impulso. Para eles, é o fim; para nós, o princípio.

Caminho, 738

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6.Tu – se és apóstolo – não hás de morrer. – Mudarás de casa, e é só.

Caminho, 744

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7. Não tenhas medo da morte. – Aceita-a desde agora, generosamente…, quando Deus quiser…, como Deus quiser…, onde Deus quiser.
– Não duvides; virá no tempo, no lugar e do modo que mais convier…, enviada por teu Pai-Deus. – Bem-vinda seja a nossa irmã, a morte!

Caminho, 739

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8. “Quando pensares na morte, apesar dos teus pecados, não tenhas medo… Porque Ele já sabe que O amas…, e de que massa estás feito. – Se tu O procurares, acolher-te-á como o pai ao filho pródigo: mas tens de procurá-Lo!

Sulco, 880

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9. Um filho de Deus não tem medo da vida nem medo da morte, porque o fundamento da sua vida espiritual é o sentido da filiação divina: Deus é meu Pai – pensa – e é o Autor de todo o bem, é toda a Bondade.
– Mas será que tu e eu nos comportamos, de verdade, como filhos de Deus?

Forja, 987

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10. Morrer é uma coisa boa. Como pode ser que haja quem tenha fé e, ao mesmo tempo, medo da morte?… Mas, enquanto o Senhor te quiser manter na terra, morrer, para ti, é uma covardia. Viver, viver e padecer e trabalhar por Amor: isto é o que te toca.

Forja, 1037

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11. A felicidade do Céu

Um cristão sincero, coerente com a sua fé, não atua senão com os olhos postos em Deus, com sentido sobrenatural; trabalha neste mundo, que ama apaixonadamente, metido nas preocupações da terra, mas com o olhar fito no Céu.

Amigos de Deus, 206

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12.Estou cada vez mais persuadido disto: a felicidade do Céu é para os que sabem ser felizes na terra.

Forja, 1005

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Que a Virgem Santíssima, que soube como ninguém viver na perfeição na obediência ao Pai Eterno, ajude-nos a ver a morte como nossa irmã que nos chamará para vivermos eternamente com Deus.

Fonte: No link você encontra muitas outras reflexões de S. Josemaría sobre a morte e a eternidade.  https://opusdei.org/pt-br/article/pode-encarar-se-a-morte-com-serenidade/

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